domingo, 10 de março de 2024

Introdução e importância econômica do Abacaxi



Sumário

Introdução e importância econômica

Caracterização do 'BRS Imperial'

Escolha e preparo do solo

Correção da acidez do solo

Obtenção e manejo de mudas

Plantio

Irrigação

Adubação

Plantas espontâneas e seu controle

Indução artificial da floração

Doenças e seu controle

Pragas e seu controle

Colheita e pós-colheita

Custo de produção e rentabilidade


Introdução e importância econômica

O Brasil é o segundo maior país produtor de abacaxi no mundo, contribuindo com 10% da produção mundial em 2013 (FAO, 2013). Entretanto, a suaparticipação é muito pequena no mercado mundial de produtos de abacaxi, em virtude de destinar muito pouco às exportações, pois o mercadointerno é muito atraente, absorvendo quase toda a produção brasileira. Esse fato evidencia a grande potencialidade do produto ainda nesse mercado.Mesmo apresentando um grande potencial econômico e produtivo, a produtividade da abacaxicultura no Brasil é considerada baixa (39,3 t/ha), quandocomparada com alguns países destaques, cuja produção é voltada para o mercado externo e que apresentam produtividade de 50 a 60 t/ha (FAO,2013). A menor produtividade no Brasil pode ser explicada tanto pela variedade produzida (de menor peso e voltada para o mercado interno) comotambém por outras variáveis: sistema de produção, condições climáticas etc.

A Bahia já esteve entre os primeiros estados brasileiros produtores de abacaxi, mas, no momento, é o sexto produtor nacional, com uma produção de104,7 milhões de frutos colhidos, em uma área de 5.280 ha, com produtividade de 29,8 t ha-1, abaixo da média nacional, que foi de 39,3 t ha-1 (IBGE,2013). Neste estado, as mesorregiões mais importantes são: Centro Norte Baiano (ex: microrregião de Itaberaba, Senhor do Bonfim e Feira deSantana), Sul Baiano (microrregiões de Porto Seguro, Valença e Ilhéus-Itabuna) e Centro Sul Baiano (ex: microrregiões de Seabra e Jequié), que,juntas, participaram com 49%, 34% e 7%, respectivamente, da produção estadual de abacaxi. A região do Sul Baiano produziu 35,2 milhões de frutosem 2013, em uma área colhida de 1.648 hectares e produtividade de 32,0 t/ha, um pouco acima da média estadual, mas abaixo da média nacional.Estes últimos dados evidenciam a necessidade de incorporação de novos resultados de pesquisa capazes de aumentar a produtividade da cultura noEstado.

Das microrregiões baianas que produzem o abacaxi, quatro merecem destaque, por representarem cerca de 75% do total produzido no estado em2013: Itaberaba (41%), Porto Seguro (20%), Valença (9%) e Ilhéus-Itabuna (6%) (IBGE, 2013). Destas, a primeira representa a região semiárida, eas demais, as regiões litorâneas. Na microrregião de Porto Seguro, merecem destaque os municípios: Itabela, Prado, Eunápolis, Santa Cruz Cabrália,Caravelas, Nova Viçosa, Itamaraju, Alcobaça, Teixeira de Freitas, Medeiros Neto e Porto Seguro. Nos diversos municípios dessa região, o turismo éuma das principais atividades econômicas, e, como esse segmento é grande consumidor de frutas in natura e processadas, a fruticultura se apresentacomo boa opção de cultivo para comercialização no potencial mercado local.

Na fruticultura da mesorregião sul Baiana, a abacaxicultura tem se mostrado como uma das atividades agrícolas de excelente oportunidade. Oabacaxizeiro é uma planta rústica e resiste a períodos de déficit hídrico, o que possibilita o cultivo de variedades tradicionais, como ‘Pérola’ e ‘SmoothCayenne’, em áreas sem irrigação na região alvo desse sistema de produção. Porém, observações em áreas de produção de abacaxi têm demonstradoque a irrigação vem apresentando vantagens competitivas relevantes no cultivo do ‘Imperial’, que tem se apresentado mais exigente em água que o‘Pérola’. O fruto do abacaxizeiro apresenta boa aceitação para o consumo in natura e para o processamento, e adapta-se à utilização de pequenasáreas de cultivo. Além da sua importância econômica, a cultura do abacaxi desempenha também uma função social de destaque por sua condição deatividade absorvedora de mão de obra no meio rural, contribuindo para a geração de empregos ao longo de todo o seu cultivo.

Apesar de grande parte da mesorregião Sul Baiana apresentar terras planas, de fácil mecanização, condições climáticas favoráveis e boa quantidadede chuvas ao longo do ano, diversos fatores têm contribuído para a baixa produtividade (32 t ha-1) da cultura na região, dentre os quais: falta detecnologias adaptadas às condições edafoclimáticas; não utilização de tecnologias disponíveis; problemas fitossanitários, dentre os quais a fusariose éo mais importante; falta de planejamento da produção, com oferta de produto em período de preços baixos etc. A utilização de boas técnicas decultivo, aliada às boas condições dos recursos naturais do Sul Baiano, pode favorecer o crescimento da abacaxicultura na região, considerando que oprodutor pode escalonar a sua produção e garantir renda estável ao longo do ano, com colheitas planejadas para atender mercados locais ouatacadistas.

A fusariose é a principal doença da abacaxicultura e ocasiona elevadas perdas de plantas e frutos durante o processo produtivo. Em torno de 20% daprodução é perdida devido não só à fusariose, mas também a outros fatores, como cochonilha, broca do fruto, frutos pequenos (sem padrãocomercial), queima solar, falha na indução, etc. Com o plantio do abacaxizeiro ‘BRS Imperial’, cultivar resistente à fusariose desenvolvida pela EmbrapaMandioca e Fruticultura, espera-se que as perdas sejam reduzidas para, no máximo, 10%.

Esta publicação destina-se a disponibilizar informações técnicas sobre o cultivo do abacaxizeiro ‘BRS Imperial’ voltadas para a realidade do Sul Baiano,com base em resultados de pesquisas, de modo a contribuir com o desenvolvimento da abacaxicultura na região.



terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Espécies, Variedades e Cultivares de Pitayas

 

Variabilidade genética

As pitayas são conhecidas mundialmente como Dragon Fruits ou Frutas-do-Dragão e pertencem à família Cactaceae, a qual possui aproximadamente 100 gêneros e 1.500 espécies nativas das Américas. No Brasil, a pitaya é considerada uma fruta exótica pelo fato de ser pouco conhecida, exuberante e comercializada com alto valor, principalmente em mercados exigentes.

Existem diferentes espécies cultivadas que são referidas como pitayas. A taxonomia das pitayas tem sido alvo de muitas controvérsias e revisões dos gêneros e espécies ao longo do tempo. Na revisão mais recente, as espécies mais importantes das pitayas do ponto de vista comercial foram classifi cadas dentro do gênero Selenicereus. As quatro espécies de maior potencial comercial apresentam diferenças quanto ao tamanho do fruto, cor da casca e cor da polpa: a Selenicereus undatus (Haw.) D.R.Hunt (frutos grandes com casca vermelha e polpa branca), Selenicereus costaricensis (F.A.C.Weber) S.Arias & N.Korotkova ex Hammel (frutos médios com casca vermelha e polpa vermelha), Selenicereus megalanthus (K.Schum. ex Vaupel) Moran (frutos médios com casca amarela com espinhos e polpa branca) e Selenicereus setaceus (Salm-Dyck ex DC.) A.Berger ex Werderm (frutos pequenos com casca vermelha com espinhos e polpa branca).

As espécies S. undatus e S. megalanthus são as mais cultivadas no mundo. A espécie S. undatus tem destaque comercial devido à sua alta produtividade e produção de frutos grandes e a espécie S. megalanthus por produzir frutos amarelos com uma polpa muito doce. A espécie S. costaricensis se destaca pela coloração vermelho-arroxeada da polpa com presença de compostos antioxidantes e a S. setaceus por ter uma polpa muito saborosa com uma combinação perfeita entre o teor de sólidos solúveis totais e uma leve acidez, o que confere um sabor aprimorado. A espécie S. setaceus é nativa da região do Cerrado, sendo o potencial comercial relatado por Junqueira et al. (2002).

É importante considerar que existe grande variabilidade intraespecífica, ou seja, existem diferenças genéticas entre acessos dentro de cada espécie. Esta variabilidade genética tem sido verificado para características de interesse agronômico como fenologia, produtividade, adaptabilidade, resistência a doenças, características físicas e químicas dos frutos, autocompatibilidade, vigor, precocidade, fenologia e sensibilidade ao fotoperíodo para indução de florescimento (Junqueira et al., 2010; Lima et al., 2014; Faleiro e Junqueira, 2021). Esta rica variabilidade é a base para os trabalhos de melhoramento genético das espécies, tendo em vista o desenvolvimento de cultivares geneticamente superiores (Faleiro e Junqueira, 2021).

Variedades cultivadas no Brasil

Podemos dizer que, atualmente, as mudas comercializadas de pitaya no Brasil não são provenientes de matrizes selecionadas e devidamente avaliadas do ponto de vista agronômico em diferentes regiões do País. Nos pomares de pitaya, há grande variação na produção, tamanho e formato de frutos, bem como em suas características físico-químicas, refl etindo a desuniformidade das plantas. Outro problema é que os produtores têm cultivado variedades importadas com baixa capacidade produtiva e baixa adaptação às condições edafoclimáticas brasileiras. Um exemplo é o cultivo, sem sucesso, da Pitaya Amarela importada da Colômbia.

No Brasil, há o cultivo de diferentes variedades que não foram devidamente avaliadas e registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Além da Pitaya Amarela Colombiana, outras variedades sem registro são cultivadas no Brasil como a Vietnamese White, Golden, Orejona, Rabilonga, Vermelha Colombiana, Grafi te, Vênus, Tailandeza, Royal Red, além de populações e híbridos de diferentes espécies.

Esta observação evidencia a necessidade do desenvolvimento de cultivares com registro no Mapa e com garantia de origem genética, que possam ser recomendadas para cultivo em diferentes regiões do Brasil.

Atualmente, já existem as instruções normativas para os processos de registro e proteção de cultivares de pitayas no Mapa, além de um conjunto de descritores morfo-agronômicos utilizados para a diferenciação das cultivares das pitayas (Faleiro et al., 2021)

Melhoramento genético

As ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação relacionadas ao melhoramento genético das pitayas são muito recentes no Brasil e no Mundo. A nível mundial, existem alguns grupos de pesquisa como nos Estados Unidos, países asiáticos e em Israel. No Brasil, atividades de caracterização e uso de recursos genéticos, tendo em vista o seu uso no melhoramento genético das pitayas têm sido realizadas na Embrapa Cerrados, Universidade Federal de Lavras, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, além de outras instituições públicas e privadas e alguns fruticultores e colecionadores.

Os primeiros trabalhos de seleção e melhoramento genético foram realizados em 2002 na Embrapa Cerrados (Faleiro e Junqueira, 2021) e somente em 2021 foram encaminhadas para registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento as cinco primeiras cultivares: BRS Lua do Cerrado, BRS Luz do Cerrado, BRS Minipitaya do Cerrado, BRS Granada do Cerrado e BRS Âmbar do Cerrado. Estas cultivares têm sido validadas em todas as regiões do Brasil com resultados animadores quanto ao desempenho agronômico.

Cultivares desenvolvidas pela Embrapa

BRS Lua do Cerrado (BRS LC): Cultivar de pitaya da espécie Selenicereus undatus com frutos redondos e vermelhos de polpa branca, para o mercado de frutas especiais. As principais características desta cultivar trabalhadas no melhoramento genético foram a produtividade, vigor, autocompatibilidade, maior tamanho do fruto e do teor de sólidos solúveis totais, além da maior resistência e tolerância a doenças. A cultivar BRS Lua do Cerrado (BRS LC) apresenta frutos grandes, com o formato arredondado.

Pode atingir mais de 30 t ha-1 ano-1. Os frutos são grandes, com massa média de 600 g (sem polinização manual), mas podem atingir massa superior a 1 kg (Figura 1a).

BRS Luz do Cerrado (BRS LZC): Cultivar de pitaya da espécie Selenicereus undatus com frutos alongados e vermelhos de polpa branca para o mercado de frutas especiais. As principais características desta cultivar trabalhadas no melhoramento genético foram a produtividade, vigor, autocompatibilidade, maior tamanho do fruto e do teor de sólidos solúveis totais, além da maior resistência e tolerância a doenças. A cultivar BRS Luz do Cerrado (BRS LZC), assim como a cultivar BRS Lua do Cerrado (BRS LC), apresenta frutos grandes, entretanto com o formato mais alongado.

Estas duas cultivares agregam diversidade às variedades de pitaya cultivadas comercialmente no Brasil, com o diferencial de ter garantia de origem genética e experiências de sucesso no cultivo em diferentes regiões e sistemas de produção. Pode atingir mais de 30 t.ha-1ano-1. Os frutos são grandes, com massa média de 550 g (sem polinização manual), mas podem atingir massa superior a 1 kg (Figura 1b).

BRS Granada do Cerrado (BRS GC): Cultivar híbrida de pitaya vermelha de polpa roxa (Selenicereus undatus x Selenicereus costaricensis). Esta cultivar foi obtida por meio do melhoramento genético convencional visando aumento de produtividade, autocompatibilidade, vigor, precocidade, características físicas e químicas dos frutos (frutos vermelhos de polpa roxa rica em antioxidantes) e resistência a doenças. Pode atingir uma produtividade de mais de 40 t.ha-1ano-1. Os frutos são de tamanho médio, massa média de aproximadamente 220 g e muito uniformes, com casca e polpa vermelha (Figura 1c).

BRS Mini Pitaya do Cerrado (BRS MPC): Cultivar de minipitaya da espécie Selenicereus setaceus, de frutos vermelhos com espinhos e polpa branca para uso na fruticultura ornamental e para o mercado de frutas especiais, considerando o sabor diferenciado da sua polpa. Uma perfeita combinação entre o teor de sólidos solúveis totais e a acidez confere à polpa do fruto desta cultivar um sabor aprimorado. As principais características desta cultivar trabalhadas no melhoramento genético foram a produtividade, autocompatibilidade, combinação do teor de sólidos solúveis totais e acidez da polpa, além da maior resistência e tolerância a doenças.

Esta cultivar tem origem na biodiversidade essencialmente brasileira, especificamente vinda da região do Cerrado. Pode atingir uma produtividade de mais de 10 t ha-1 ano-1. Os frutos são pequenos, com massa média de 80 g, muito doces com leve acidez, o que confere um sabor especial (Figura 1d).

BRS Âmbar do Cerrado (BRS AC): Cultivar de pitaya amarela, Selenicereus megalanthus, para o mercado de frutas especiais de alto valor agregado.

Esta cultivar foi obtida por meio do melhoramento genético convencional visando o aumento de produtividade, autocompatibilidade, vigor, precocidade, características físicas e químicas dos frutos (frutos maiores com polpa com elevado teor de sólidos solúveis totais), resistência a doenças e adaptabilidade. Existia uma mística de que pitayas amarelas não são adaptadas às condições edafoclimáticas brasileiras, mas por meio dos recursos genéticos disponíveis no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Pitayas da Embrapa Cerrados e de ações de melhoramento genético via diferentes ciclos de seleção e recombinação visando à adaptabilidade, foi possível o desenvolvimento da cultivar BRS Âmbar do Cerrado. Foram realizados 3 ciclos de seleção clonal e matrizes clonais geneticamente superiores foram selecionadas e uma de destaque foi utilizada na geração da nova cultivar. Pode atingir produtividade de mais de 10 t ha-1 ano-1. Os frutos apresentam massa média de 150 g e são muito doces, o que confere um sabor especial (Figura 1e). Uma importante característica desta cultivar nas condições do Cerrado do Planalto Central é a produção na entressafra das demais cultivares de pitayas desenvolvidas pelo programa de melhoramento genético realizado na Embrapa Cerrados.

Figura 1. Características da planta e dos frutos das cultivares BRS Lua do Cerrado (a), BRS Luz do Cerrado (b), BRS Granada do Cerrado (c), BRS Mini Pitaya do Cerrado (d) e BRS Âmbar do Cerrado (e).



Produção de mudas de abacaxi para cultivo orgânico

 

Mudas 

O abacaxizeiro produz naturalmente quatro tipos de mudas: rebentões, filhotes rebentões, filhotes e coroas. A opção quanto ao tipo a ser utilizado depende da variedade cultivada, da disponibilidade de mudas e da preferência do produtor. Vale destacar que o ciclo do abacaxizeiro é influenciado pelo tipo de muda, sendo os rebentões os mais precoces, as coroas as mais tardias, com os filhotes apresentando comportamento intermediário. Além do ciclo mais longo, as mudas tipo coroa apresentam algumas outras desvantagens, tais como: são mais sujeitas à incidência de doenças, como a podridão do olho em condições de campo; cada planta só produz uma coroa; só estão disponíveis em regiões onde os frutos são destinados ao processamento industrial, uma vez que o abacaxi é comercializado com a coroa no mercado de frutas frescas.

Considerando o papel importante do material propagativo como transmissor de pragas e doenças, as mudas devem ser colhidas apenas em plantios onde a incidência de pragas e doenças foi nula. Além disto, as mudas só podem ser obtidas de plantios conduzidos em sistema orgânico, ou de plantio convencional após dois anos de conversão para o sistema de produção orgânico. Não havendo disponibilidade de mudas oriundas de sistema orgânico, de acordo com a IN 17 de 2014, pode-se obter autorização para utilização de outros materiais desde que não tratados com produtos não permitidos pela referida IN (Brasil, 2014). Para o sucesso do cultivo do abacaxizeiro em sistema orgânico de produção, é essencial realizar uma seleção criteriosa de mudas para evitar ou reduzir a introdução de agentes patogênico uma vez que, nesse sistema, poucos produtos podem ser utilizados para o controle de pragas e doenças da cultura.

Nesse sentido, a produção de mudas não convencionais pelo método melhorado de seccionamento de talo utilizando plantas matrizes oriundas de plantios orgânicos pode ser vista como uma tecnologia a mais para reduzir os riscos de infestação de novas áreas uma vez que permite um aprimoramento na seleção do material propagativo identificando com maior precisão sintomas de doenças como a fusariose e a murcha associadas à cochonilha (Figura 1). As mudas produzidas em viveiros, além da qualidade, permitem também a rastreabilidade, uma vez que é mantido registro de todo o processo de produção, procedimento importante para a certificação orgânica da atividade. Após a seleção de plantas matrizes no campo, os talos das plantas são seccionados tanto no sentido longitudinal como no sentido transversal, sendo tratados em solução de dióxido de cloro (5 ml/L de água) ou calda bordalesa (10 ml/L) por umperíodo de cinco minutos. Em seguida, as secções são secas à sombra e posteriormente encaminhadas para canteiros em local sombreado. Após a disposição dos talos nos canteiros, eles devem ser cobertos com uma fina camada de substrato como casca de pinus, coco, serragem, vermiculita ou outro resíduo de origem vegetal capaz de reter umidade. Entre os 30 e 45 dias iniciais, começam a surgir as primeiras brotações e, com 90 dias após o seccionamento, as mudas alcançam tamanho para serem transplantadas para os tubetes e canteiros onde se desenvolvem por 4 a 6 meses até atingirem tamanho ideal para campo (30-40 cm).

Além desses métodos de produção, outra possibilidade é a utilização de mudas obtidas em laboratórios ou biofábricas certificados, conhecidas como mudas micropropagadas ou de cultura de tecidos, contendo garantia da estabilidade genética.

Figura 1. (A) Seccionamento de talo de abacaxizeiro; (B) talos dispostos em canteiros cobertos com camada de substrato; (C) mudas de abacaxizeiro com 7-8 cm transplantas para tubetes; (D) mudas transplantadas para canteiros  

Seleção e tratamento das mudas

A qualidade do material de plantio merece uma atenção muito especial do produtor. As mudas precisam ser sadias, ter vigor e tamanho não inferior a 30 cm, sem a presença de sintomas da fusariose e da murcha, esta devido ao vírus transmitido pela cochonilha. É essencial realizar uma seleção visual rigorosa, descartando-se toda e qualquer muda com sintomas de ataque de pragas. Com o objetivo de controlar pragas, sobretudo cochonilhas e ácaros, pode-se realizar o processo de cura que consiste em colocar as mudas com a base voltada para cima, para secar ao sol, o que permite acelerar a cicatrização das lesões resultantes da colheita, além de eliminar o excesso de água presente nas mesmas. Após o período de cura, as mudas devem ser classificadas e plantadas em talhões por faixa de peso, de maneira a permitir melhor uniformidade no desenvolvimento das plantas, facilitando os tratos culturais e ensejando uma maior uniformidade no tamanho dos frutos ao final do ciclo. Em caso de morte de mudas nos primeiros três meses de cultivo, pode ser feito o replantio com mudas do mesmo tamanho das plantas em fase de crescimento.  




quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Cultivares de Abacaxi para o Cultivo Orgânco

 

Cultivares 

Antes de iniciar a produção de abacaxi sob sistema orgânico, o produtor deve considerar a cultivar a ser utilizada. Esta decisão leva em conta fatores como o destino da produção, a adaptabilidade à região produtora, a preferência do consumidor, a disponibilidade de mudas e as práticas fitotécnicas exigidas pela cultivar.

Deve-se dar preferência a cultivares resistentes ou tolerantes ao complexo de pragas e doenças do abacaxizeiro presente na região. No Brasil, há predomínio de cultivares tradicionais,como a Pérola e a Smooth Cayenne, todas suscetíveis à fusariose, principal limitante fitossanitário da abacaxicultura no país. As novas cultivares resistentes à fusariose são relativamente recentes e ainda pouco conhecidas do consumidor. Há que se considerar a importância da sua promoção junto ao mercado consumidor.

As cultivares descritas a seguir possuem grandes probabilidades de serem cultivadas em sistema orgânico de produção, tanto por sua aceitação comercial, quanto por apresentar resistência à fusariose:

BRS Imperial: Obtida do cruzamento entre as cultivares Perola e Smooth Cayenne. Seu ciclo é mais longo que o da cultivar Pérola, em decorrência do seu desenvolvimento mais lento. O tratamento de indução floral (TIF) deve ser feito a partir do 14 meses após o plantio. Após o TIF, demandam-se mais cinco a seis meses para a colheita dos frutos. Suas folhas são verde escuro, com faixa central arroxeada e sem espinhos nos bordos (inermes). O pedúnculo é curto (cerca de 20 cm), o que evita o tombamento dos frutos e reduz a queima solar dos mesmos.Produz elevado número de mudas tipo filhote, geralmente inseridas próximo à base do fruto, o que dificulta a sua colheita e exige do produtor o cultivo das mudas em viveiro antes do transplantio definitivo para um novo cultivo. Seus frutos são de tamanho pequeno a médio, com peso médio de 1.150 g, obtido no sistema orgânico de produção na Chapada Diamantina;com formato cilíndrico e casca de cor amarelo a laranja na maturação. A casca possui frutilhos salientes, que conferem grande resistência ao transporte. A polpa é de cor amarelo intenso,com elevados teores de açúcares (teores sólidos solúveis de 18 a 20o Brix), de acidez moderada (média de 0,54 mg ácido cítrico/100 g de polpa) e excelente sabor. O elevado teor de ácido ascórbico (vitamina C) confere à polpa resistência ao escurecimento interno, uma anomalia fisiológica pós-colheita que pode ocorrer em frutos de abacaxi de algumas outras cultivares.

BRS Vitória: Resultante de cruzamento entre as cultivares Primavera e Smooth Cayenne. Possui folhas sem espinhos e de coloração verde claro. Os frutos, com peso médio de 1.500 g,são cilíndricos, de casca amarelada na maturação, com polpa de cor branca, com elevado teor de sólidos solúveis (média de 15,8o Brix) e com acidez elevada (média de 0,80% de ácido cítrico). Possui cilindro central reduzido, maior rendimento de polpa e maior resistência mecânica na casca que a cultivar Pérola.

BRS Ajubá: De genealogia idêntica à BRS Imperial, a cultivar BRS Ajubá foi recomendado pela Embrapa para as regiões produtoras de abacaxi na Região Sul do Brasil. As plantas dessa cultivar possuem folhas completamente lisas, de coloração verde a verde-escuro com ápices arroxeados. O fruto tem a forma cilíndrica, de casca amarela na maturação, polpa de cor amarela, com médio a alto teor de sólidos solúveis (média de 14,5 º Brix) e acidez moderada (0,60 % de ácido cítrico).

IAC Fantástico: Resultante da polinização aberta de um híbrido obtido do cruzamento entre a variedade Tapiracanga e a Smooth Cayenne. É vigorosa, resistente à fusariose, e com folhas que possuem espinhos apenas nas extremidades, à semelhança da Smooth Cayenne. O fruto é de tamanho médio e de maturação tardia, formato intermediário entre o Pérola e o Smooth Cayenne, casca de coloração de verde amarela a alaranjada quando maduro, pedúnculo curto e grosso, polpa de cor amarelo intenso, doce (de 16,4 a 18,7oBrix) e acidez média a elevada(0,52 a 1,52% de ácido cítrico), indicada para consumo in natura, podendo também ser industrializado. 

A seguir, são apresentadas as características das cultivares tradicionais de abacaxi no Brasil e no exterior, com grande aceitação no mercado, porém, suscetíveis à fusariose, principal problema fitossanitário da abacaxicultura brasileira. O uso dessas cultivares demandará práticas de manejo para a exclusão e/ou a erradicação da doença, como uma rigorosa seleção demudas antes do plantio e o monitoramento constante das áreas sob cultivo, com eliminação de plantas sintomáticas. 

Pérola: É a cultivar mais encontrada em plantios no Brasil, principalmente nas regiões mais quentes e de menor latitude, pois é pouco tolerante ao florescimento natural. A planta possui porte médio, crescimento ereto e vigoroso, folhas longas, espinhosas e de coloração verde escuro Tem pedúnculo longo, comprimento em torno de 30 cm, e produz muitas mudas do tipo filhote (8 a 12 por planta). Os frutos são cônicos, de casca verde quando da maturação aparente. O peso médio obtido no sistema orgânico de produção na Chapada Diamantina foi de 2,0Kg, com 15o Brix de sólidos solúveis e baixa acidez (0,60 mg ácido cítrico/100 g de polpa). A polpa é branca e suculenta. É tolerante à murcha associada à cochonilha, mas altamente suscetível à fusariose.

Jupi: Similar à Pérola, diferindo desta por possuir folhas mais largas e produzir frutos cilíndricos e de polpa amarelada.

Smooth Cayenne: Até o final do século XX, foi a cultivar mais plantada no mundo, com finalidade industrial. Também chamada no Brasil de ‘Havaiano’, onde é mais plantada nas regiões Sul e Sudeste, pela sua maior tolerância ao frio e resistência ao florescimento precoce. As plantas são robustas, de porte ereto, folhas verde-escuro e com espinhos no ápice e, em menor intensidade, na base. Possui pedúnculo curto (cerca de 20 cm) e produz poucos filhotes (0 a 5 por planta). O fruto é ovoide, com peso entre 1,5 e 2,5 kg, de casca alaranjada quando da maturação aparente, polpa amarela, firme, rica em sólidos solúveis, porém, de maior acidez que o abacaxi Pérola, principalmente quando colhido no inverno. É suscetível às principais pragas e doenças do abacaxizeiro no Brasil, ou seja, a murcha associada à cochonilha e à fusariose.

Gold ou MD-2: Desenvolvida no Havaí para atender o consumo fresco, suplantou a cultivar Smooth Cayenne no mercado internacional de abacaxi. As folhas têm poucos espinhos nosbordos, concentrados no ápice e na base. O fruto é cilíndrico, com polpa de cor amarela mais intensa, e maior homogeneidade na maturação interna que o fruto da ‘Smooth Cayenne’. Tem teor de açúcares (15 a 17°Brix) e de ácido ascórbico elevados (56,4 mg/100 g de polpa), mas acidez total menor (0,5%) do que aquela cultivar (0,5 a 1,0%). É mais resistente ao armazenamento e ao transporte que a ‘Smooth Cayenne’, pois não apresenta suscetibilidade ao escurecimento interno, mas é mais suscetível à podridão de Phytophthora. É também suscetível à murcha associada à cochonilha e à fusariose.  


Figura 1
. Cultivares de abacaxi encontradas no Brasil: (A) BRS Imperial, (B) BRS Vitória, (C) BRS Ajubá, (D) IAC Fantástico, (E) Pérola, (F) Jupi, (G) Smooth Cayenne, (H) MD-2/Gold


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Planejamento do pomar e Condições de cultivo do Abacaxi Orgânico

  

Planejamento do pomar 

Como em toda atividade produtiva, a implementação de um sistema orgânico de produção requer a elaboração de um plano de trabalho especificando todos os aspectos relevantes para as atividades, incluindo estratégias de manejo. Na elaboração desse plano, é preciso ter em mente que a produção orgânica deve ser encarada como uma atividade holística em consonância com o ecossistema e com os aspectos sociais, assim como comprometida com a sustentabilidade do sistema. Nesse sentido, a estratégia de produção deve contemplar ações que possibilitem a menor utilização possível de insumos externos à propriedade, o aumento do teor de matéria orgânica e da atividade microbiana no solo, entre outros, com reflexos positivos na dinâmica e na Sustentabilidade ambiental do solo.

A elaboração de um plano de gestão ambiental da propriedade auxilia, sobremaneira, a preservação do meio ambiente, contribuindo significativamente para a sustentabilidade da produção.

É também importante destacar a necessidade da manutenção de registros e de sua identificação, detalhados e atualizados, das práticas de manejo e insumos utilizados.

Pode-se resumir o planejamento nas seguintes etapas:

• levantamento de potenciais mercados para abacaxi orgânico a serem atendidos;

• definição de variedade, sistema de produção e época de plantio;

• escolha da área de plantio;

• análises física e química do solo;

• definição de práticas de conservação e manejo do solo em consonância com os preceitos da agricultura orgânica;

• manutenção e melhoria dos atributos das características físicos, químicos e biológicos do solo;

• identificação de plantas espontâneas na área a ser cultivada, de pragas e doenças da cultura do abacaxi presentes na propriedade ou em lavouras próximas;

• aquisição/seleção de mudas de qualidade fitossanitária;

• definição de sistema de irrigação para área de cultivo;

• monitoramento e controle de pragas e doenças e monitoramento de inimigos naturais presentes na área;

• número de adubações de cobertura e data de aplicação do fertilizante orgânico;

• definição de data para indução floral e colheita dos frutos de abacaxi;

• acondicionamento dos frutos em caixas adequadas para redução de perdas durante o transporte.


Condições de cultivo 

Quanto à localização do plantio, é imperativo atentar para o fato de que o abacaxizeiro é uma planta que apresenta bom desenvolvimento numa faixa de temperatura entre 20 ºC e 32 ºC,ótimo em torno de 25 ºC e uma variação de 10 ºC.

Outro aspecto importante diz respeito à precipitação pluvial. Embora o abacaxizeiro apresente tolerância à seca, precipitação de 1.000 a 1.200 mm por ano, é considerada necessária paraseu desenvolvimento e produção comercial. A luminosidade e a umidade relativa são outras variáveis climáticas importantes para a cultura do abacaxizeiro, que requer de 7 a 8 horas de luzpor dia, e umidade relativa de 70%, ou superior, para seu desenvolvimento e produção.

A despeito de sua importância para a abacaxicultura, as variáveis climáticas não devem ser consideradas de forma isolada e sim como um todo para que a cultura possa expressar seu potencial produtivo.

Autores deste tópico:Aristoteles Pires de Matos  

 


segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Sistema Orgânico para Produção de Abacaxi


A Lei No 10.831, de 23 de dezembro de 2003, em seu Art. 1º, dispõe sobre a agricultura orgânica, conforme texto a seguir: ?Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente?. A Embrapa Mandioca e Fruticultura, juntamente com a empresa Bioenergia Orgânicos, disponibiliza aos agricultores e aos técnicos em geral o primeiro sistema orgânico de produção para a cultura do abacaxi no Brasil. A publicação reúne informações técnicas sobre estabelecimento da cultura, preparo da área, seleção de variedades e mudas, práticas culturais, manejos de doenças, nematoides, insetos e ácaros, além dos manejos na colheita e pós-colheita, com base nos conhecimentos disponíveis e nos regulamentos aprovados para a produção orgânica de alimentos. Para receber a denominação de produto orgânico, a unidade de produção precisa cumprir a Lei Nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, e o Regulamento Técnico constante da Instrução Normativa 46, de 06/10/2011, complementada pela IN 17, de 18/06/2014, que estabelece as normas técnicas para os Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal a serem seguidas por toda pessoa física ou jurídica responsável por unidades de produção de sistemas orgânicos ou por unidades de produção em processo de conversão. Assim, os produtos orgânicos são produzidos tendo a preocupação com o meio ambiente, buscando manejar de forma equilibrada o solo e os demais recursos naturais (água, plantas e animais), e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos. Com o sistema proposto, espera-se contribuir para a melhoria do cultivo orgânico do abacaxizeiro, trazendo, como consequência, um produto ambientalmente correto, socialmente justo, economicamente viável e em conformidade com o disposto na Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, no Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007 e com a Instrução Normativa 17, de 18 de junho de 2014.

Sistemas orgânicos de produção de diferentes frutas estão sendo construídos de forma pioneira pela Embrapa com base em experimentos instalados na Chapada Diamantina (BA). Todos são resultados de um projeto realizado em parceria com a empresa Bioenergia Orgânicos no município de Lençóis que experimenta soluções para a produção de orgânicos em larga escala, algo ainda difícil de se fazer.

A Embrapa está elaborando protocolos de produção usando a estratégia de geração e validação simultânea dos resultados. Os resultados do primeiro ciclo de produção mostram níveis de produtividade superiores ao convencional.

As pesquisas abrangem as culturas do abacaxi, banana, manga e maracujá. Um exemplo de que a produção orgânica se baseia em séries de testes é o trabalho realizado com a BRS Imperial, que é naturalmente resistente à fusariose, a principal doença da cultura, ou seja, não é necessário aplicar agroquímicos.

Vale salientar que, para ser considerado orgânico, o produtor deve usar técnicas ambientalmente sustentáveis e não pode utilizar agrotóxicos nem adubos químicos solúveis, que devem ser aplicados rigorosamente de acordo com as instruções para que não haja excesso em relação à capacidade de absorção das plantas e, em longo prazo, não tragam danos ao ecossistema.

Apresentação 

A Lei No 10.831, de 23 de dezembro de 2003, em seu Art. 1º, dispõe sobre a agricultura orgânica, conforme texto a seguir: “Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”.

A Embrapa Mandioca e Fruticultura, juntamente com a empresa Bioenergia Orgânicos, disponibiliza aos agricultores e aos técnicos em geral o primeiro sistema orgânico de produção para acultura do abacaxi no Brasil. A publicação reúne informações técnicas sobre estabelecimento da cultura, preparo da área, seleção de variedades e mudas, práticas culturais, manejos dedoenças, nematoides, insetos e ácaros, além dos manejos na colheita e pós-colheita, com base nos conhecimentos disponíveis e nos regulamentos aprovados para a produção orgânica de alimentos.

Para receber a denominação de produto orgânico, a unidade de produção precisa cumprir a Lei Nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, e o Regulamento Técnico constante da Instrução Normativa 46, de 06/10/2011, complementada pela IN 17, de 18/06/2014, que estabelece as normas técnicas para os Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal a serem seguidas por toda pessoa física ou jurídica responsável por unidades de produção de sistemas orgânicos ou por unidades de produção em processo de conversão.

Assim, os produtos orgânicos são produzidos tendo a preocupação com o meio ambiente, buscando manejar de forma equilibrada o solo e os demais recursos naturais (água, plantas e animais), e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos.

Com o sistema proposto, espera-se contribuir para a melhoria do cultivo orgânico do abacaxizeiro, trazendo, como consequência, um produto ambientalmente correto, socialmente justo,economicamente viável e em conformidade com o disposto na Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, no Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007 e com a Instrução Normativa 17, de 18 de junho de 2014.    

Importância socioeconômica 

O abacaxizeiro, Ananas comosus (L) Merr var. comosus Coppens & Leal, é a principal cultura econômica da família Bromeliaceae que produz frutos altamente valorizados nos mercados nacional e internacional. Além de seus aroma e sabor, o abacaxi é também um fruto com elevado valor nutritivo, haja vista que cada 100 g de polpa fresca contêm 7 mg de fósforo; 113 mgde potássio; 7 mg de cálcio; 14 mg de magnésio; 0,37 mg de ferro; 0,11 mg de cobre; 1,65 mg de manganês; 0,6 μg de selênio; 3 μg de vitamina A; 31 μg de betacaroteno (precursor davitamina A); 0,09 μg de tiamina (vitamina B1); 0,036 mg de riboflavina (vitamina B2); 0,42 mg de niacina (vitamina B3); 0,16 mg de ácido pantotênico (vitamina B5); 0,09 mg devitamina B6; 11 μg de ácido fólico (vitamina B9); 15 mg de vitamina C; 1 μg de vitamina E; 0,7 μg de vitamina K; 0,50 g de proteína; 1,2 g de fibra (total); 1,7 g de glicose (dextrose);1,9 g de frutose; 8 g de açúcares totais; e 0,20 g de lipídios. Também apresenta baixo teor calórico, com apenas 490 kcal por quilograma de polpa fresca; 0,29 g de cinzas; e 86 g de água.

O abacaxi é produzido em mais de 89 países localizados, principalmente, na região tropical do planeta; porém, também em regiões sub tropicas da Índia, da Austrália e da África do Sul. O continente asiático é o maior produtor de abacaxi, sendo o país líder a Tailândia, como primeiro produtor mundial. O continente americano é o segundo maior produtor de abacaxi, tendo oBrasil como seu principal representante, ocupando a segunda posição no ranking dos produtores mundiais, tendo os estados do Pará, da Paraíba, de Minas Gerais, da Bahia e do Rio deJaneiro com seus principais produtores, com área colhida de 66.544 ha e rendimento de 38,950 toneladas/ha, e com o município de Floresta do Araguaia, no Pará, a maior área cultivadacom essa cultura no Brasil.

O cultivo comercial na grande maioria das regiões tropicais do mundo, assim como em algumas regiões subtropicais, contribui para fazer do abacaxi o terceiro fruto tropical mais importantedo planeta. Sua característica de tolerância faz do abacaxizeiro uma cultura com amplas possibilidades de adaptação em regiões semiáridas. Vale ressaltar que o Brasil, juntamente com as Filipinas e a Tailândia, lideram a produção mundial dessa fruteira, sendo que 70% são consumidos nos países produtores na forma de fruta fresca.

O abacaxizeiro pode ser cultivado em áreas degradadas, ajudando a reduzir as perdas do solo por erosão e, portanto, minimiza a degradação ambiental. Cultivado em consórcio com culturas de ciclo curto e/ou associado à cultura de cobertura, promove excelente cobertura do solo, contribuindo tanto para sua conservação quanto para a resiliência. Essas características aliadas ao desenvolvimento de variedades resistentes à fusariose, principal doença da cultura, e à tolerância à seca, o que possibilita seu cultivo em condições de sequeiro, faz do abacaxizeiro uma excelente alternativa para programas de produção orgânica.

Em uma visão mundial, a produção orgânica é considerada como excelente oportunidade para a solução de diversos problemas da agricultura no que se refere à sua sustentabilidade, alémde ocorrer uma demanda constante por produtos dessa natureza. Entretanto, a decisão de praticar a produção orgânica de abacaxi deve ser avaliada com bastante cuidado, levando-se emconta as obrigatoriedades e as necessidades desse sistema de cultivo. Todas as práticas de cultivo devem ser adequadas ao sistema orgânico de produção, cumprindo, assim, a legislaçãopertinente ao sistema.

Autores deste tópico:Aristoteles Pires de Matos  

 

Novas Variedades de Abacaxi



abacaxi BRS Ajubá


A cultivar de abacaxi BRS Ajubá é um híbrido, resultante do cruzamento entre cv. Perolera com a cv. Smooth Cayenne, com destaque para a resistencia à fusariose, principal doença do abacaxizeiro. O plantio desta variedade dispensa a utilização de fungicida para o controle da fusariose e é recomendada para a região noroeste do Rio Grande do Sul e especialmente para o vale do rio Uruguai, onde a cultivar foi avaliada durante três ciclos de produção. A planta tem porte médio e apresenta folha de cor verde escuro, totalmente desprovida de espinhos. O fruto é cilíndrico, com casca de cor amarela na maturação. A polpa é amarela, com elevado teor de açúcar e acidez titulável moderada. Apresenta peso médio do fruto sem a coroa de 1305,4g e tamanho médio de 15,8cm. Tem por diferencial os frutos mais pesados do que a tradicional cultivar Pérola e folhas completamente lisas.Os frutos obtidos podem ser destinados para o mercado de consumo in natura e para a industrialização, face a suas características sensoriais e físico-químicas.

abacaxi BRS Vitória

A cultivar de abacaxi BRS Vitória é uma variedade de abacaxi resistente à fusariose. Apresenta formato cilíndrico, folha de cor verde claro, sem espinhos nas bordas. Sua casca apresenta cor amarela na maturação. O fruto tem polpa branca, com elevado teor de açúcares e excelente sabor nas análises químicas e sensoriais, sugerindo que suas características relativas à acidez (0,8%) são superiores às do abacaxi 'Pérola'; e 'Smooth Cayenne', tendo ainda uma maior resistência ao transporte e em pós-colheita, o que pode facilitar a sua adoção pelos produtores e ter a preferência dos consumidores. Apresenta peso médio do fruto sem coroa de 1.427g. Os frutos obtidos podem ser destinados ao mercado de consumo in natura e para a agroindústria. Esta cultivar é um híbrido resultante do cruzamento da cv. Primavera com a cv. Smooth Cayenne.

ABACAXI BRS Imperial

Variedade de abacaxizeiro que resulta do cruzamento entre duas variedades: 'Perolera' e 'Smooth Cayenne'. O BRS Imperial é resistente à fusariose, principal doença da cultura, gerando frutos de excelente qualidade, doces e com uma coloração que chama a atenção. Apresenta elevado teor de açúcar, acidez titulável moderada, alto conteúdo em ácido ascórbico (antioxidante) e excelente sabor nas análises sensoriais realizadas. A planta tem porte médio e apresenta folha de cor verde-escura, sem espinhos nas bordas. Os frutos são menores do que os do 'Pérola', têm formato cilíndrico e casca de cor amarelo-intenso na maturação. A polpa é amarela, com elevado teor de açúcar e acidez moderada. Apresenta peso médio do fruto com a coroa de 1,2 kg, podendo alcançar 1,5 kg e tamanho médio do fruto de 16 cm.


 

domingo, 27 de agosto de 2023

Cultivo do Limão Taiti (introdução)

 

De origem tropical, o limão-taiti (Gtrus latiJolia) não é, na realidade, um limão verdadeiro mas uma lima ácida. Cultivado desde o século passado na Califórnia, EUA, admite-se que sua introdução naquele estado tenha ocorrido a partir de sementes de frutos importados do Taiti , derivando daí sua denominação.

No Brasil, o 'Taiti' é uma das espéciescítricas de maior importância comercial, estimando-se que sua área plantada ultrapasse, atualmente, 40 mil hectares. O Estado de São Paulo é o primeiro produtor nacional, contribuindo com quase 70% do total.

É uma planta de porte médio a grande, vigorosa e quase sem espinhos.

A folhagem é verde densa, com folhas de tamanho médio. As flore s, com cinco pétalas, também de tamanho médio, não apresentam pólen viável. A floração ocorre durante quase todo o ano, mas principalmente nos meses de setembro e outubro.

Em regiões de temperaturas elevadas, o 'Taiti' exibe fluxos contínuos de crescimento e floração, só interrompidos nos períodos de falta de chuvas. As sucessivas brotações dão origem a várias floradas que, por sua vez, proporcionam várias colheitas ao longo do ano.

Os frutos são de tamanho médio, têm a casca lisa e fina, raras sementes e, quando amadurecem (cerca de 120 dias após a florada), apresentam polpa tenra e suculenta, de cor amarelo-esverdeada, pálida. O suco, bem ácido, representa cerca de 50% do peso do fruto. O teor de ácido ascórbico varia de 20 a 40 mg/I 00 rnL de suco.

Entre as espécies cítricas, o limoeiro, ou melhor, o limão-taiti, é das mais precoces, produzindo a partir do terceiro ano. 

Na Região do Recôncavo, na Bahia, um pomar com quatro anos de idade rende, em média, 300 frutos por planta (30 kg), ou 107 mil frutos por hectare. Aos onze anos, a produtividade vai a mais de 1.100 frutos por planta (113 kg), ou cerca de 403 mil frutos por hectare.

Como referência, assinale-se que, na Flórida, EUA, o rendimento de plantios experimentais variou de 9,1 a 13,6 kg por planta no terceiro ano após o plantio; de 27 ,2 kg a 40,9 kg no quarto ano; de 59,0 kg a 81 ,7 kg no quinto ano; e de 90,8 a 113,5 kg porplanta, no sexto ano. A partir desse periodo, a produção variou com os espaçamentos no plantio. Pés com doze a quinze anos de idade chegaram a produzir 317,8 kg de frutos por ano, mas o normal por árvore é de 204,3 kga249,7 kg.

Em São Paulo, os rendimentos de pomares comerciais variam de acordo com a fase de produção: de 8,0 kg a 15,0 kg com três anos de idade; de 23,0 kg a 37,0 kg com quatro anos; de 64 kg a 86 kg com cinco anos; de 68 kg a 141 kg com seis anos e de 98 kg a 177 kg com sete anos.

A análise da produção mensal de 'Taiti' no Estado da Bahia, por três anos, mostrou que o volume colhido foi mais elevado no período de janeiro a junho, correspondendo a 61,2% do total anual. O trimestre janeiro março representou 39,2% do total, com pico no mês de março (I 7,6%). O trimestre outubro-dezembro foi o de menor produção (I 5, I % sobre o total anual), e outubro o mês de menor colheita (1,9%). Como a oferta concentra-se fortemente no primeiro semestre, nem sempre os preços do limão-taiti são compensadores.

Dai a necessidade de buscar alternativas capazes de alterar a época de floração,  forçando o amadurecimento dos frutos na entressafra.

Nas regiões semi-áridas de clima tropical, a exemplo do Nordeste brasileiro, a florada pode ser induzida pelo manejo da irrigação e da quantidade de água disponível para a planta. Após um período de déficit hídrico, com efeito, o retomo da umidade induz a planta a um ciclo de florescimento.

A aplicação correta dessa técnica de irrigação, associada a adubações balanceadas, permite obter frutos maduros no período de entressafra, quando os preços são altamente compensadores. Na maioria dos anos, o pico dos preços do limão ocorre entre os meses de setembro e novembro.

Outra alternativa muito estudada, mas ainda de pouco uso prático, consiste no uso de reguladores de crescimento, a exemplo do ethephon. Esse produto é eficiente para promover a queda de flores sendo, às vezes, utilizado com a finalidade de eliminar floradas que resultarão em safras cuja expectativa é de preços baixos. Pequena dose de ethephon, na razão de 200 ppm, é suficiente para eliminar praticamente todas as flores e frutinhos. Isso, porém, não assegura a emissão de flores na época comercialmente mais adequada. Além disso, convém destacar que o produto provoca alguns danos à planta, em virtude da fitotoxicidade.



sábado, 4 de março de 2023

Aspectos econômicos, Receitas e Bonsai de Jabuticaba

 

Aspectos econômicos

De acordo com Magalhães et al, citado por Mota (2002) o potencial econômico dessa fruta é grande, devido às suas características organolépticas para consumo "in natura", e a possibilidade de ser utilizada na fabricação de licores e geléias. Entretanto, por ser muito perecível, seu período de comercialização pós-colheita é curto, porque há uma rápida alteração da aparência, devido à intensa perda de água, ocorrendo deterioração e fermentação da polpa, dois a três dias após a colheita.

Segundo Donadio (2000), a jabuticaba ainda é considerada uma fruta de pomares, mas a sua comercialização vem crescendo. Segundo o autor, em 1980, a CEAGESP comercializou em torno de 900.000Kg, e em 1998, este valor subiu para mais de 4.000.000Kg. De acordo com os dados pela CEAGESP, 95% da produção está concentrada nos meses de agosto a novembro, principalmente, setembro.


Processamento do fruto (receitas caseiras)

Vários produtos podem ser obtidos a partir da jabuticaba. A seguir são relatadas algumas receitas obtidas em sites da internet.

a) Torta de jabuticaba

“Ingredientes:

100 gramas biscoitos água

1 colher de sopa de margarina derretida

1 colher de café de canela em pó

1 colher de sopa de adoçante em pó

3 xícaras de jabuticaba

2 xícaras de água

½ xícara de adoçante em pó

1 colher de chá de amido de milho

1 ½ envelopes de gelatina em pó sem sabor

3 claras em neve

½ xícara de creme de leite light


Modo de Preparar: 

Bater os biscoitos no processador até formar uma farofa. Colocar em uma panela com a margarina até começar a dourar. Retirar e adicionar o adoçante e a canela. Colocar no fundo de uma forma de abrir. Levar a jabuticaba com a água ao fogo e deixar cozinhar até que a casca arrebente. Deixar ficar morno e bater no liquidificador. Passar por um coador e torrar ao fogo com o adoçante, o amido. Deixar encorpar. Dissolver a gelatina em 4 colheres de sopa de água e em banho-maria. Reservar 1 xícara da geléia de jabuticaba. Misturar o restante, a gelatina, a clara batida em neve e o creme de leite. Colocar sobre a massa de torta e levar à geladeira. Quando firmar, retirar do aro e servir com a calda.”


b) Geléia de Jabuticaba

“Ingredientes:

- 3 litros de jabuticaba

- cerca de cinco copos americanos de açúcar cristal, de acordo com a quantidade de suco da fruta


 Modo de Preparar

Lavar a jabuticaba. Espremer numa panela e levar ao fogo com a casca e o caroço. Assim que ferver, mexer e retirar do fogo. Deixar esfriar, passar na peneira de taquara, facilmente encontrada em mercados municipais. Tornar a coar o líquido no coador. Medir seis copos do suco e cinco copos americanos de açúcar. Levar ao fogo e deixar dar o ponto. Dica importante: deixar pingar a geléia em um copo com água. Quando a bolinha bater no fundo do copo e dissolver, já está no ponto. Aí é só colocar em um copo de vidro esterilizado.

Tampar só depois que a geléia estiver fria”.


c) Sorvete de Jabuticaba

“Ingredientes:

-1 litros de suco de jabuticaba

-1 xícara e meia de açúcar cristal

-1 xícara de leite em pó

-1 colher de sopa de liga neutra

-1 colher de sopa rasa de gordura hidrogenada


  Modo de preparar

Lavar bem as jabuticabas. Depois espremer a fruta numa panela, deixando a casca e o caroço. Levar ao fogo. Assim que ferver, passar na peneira de taquara, facilmente encontrada em mercados municipais. Pode-se usar, também, a peneira de plástico. A de alumínio não serve. Coar num coador de pano e então o suco estará pronto. Em seguida colocar todos os ingredientes no liquidificador, menos a gordura hidrogenada. Bater por aproximadamente 20 minutos. Deixar no freezer de um dia para outro. No outro dia dividir a massa em duas partes, porque a batedeira caseira não comporta tudo de uma só vez. Bater cada parte com meia colher de gordura hidrogenada. A massa vai crescer e o sorvete estará pronto. Ponha em potes e leve à geladeira.”


d) Licor

Ingredientes:

400g de jabuticaba

200g de açúcar

200cm3 de água

200cm3 de álcool 95 G.L.


Modo de preparar:

Esmagar as jabuticabas, aproveitando toda a fruta. Deixar em infusão no álcool durante 24 horas. Coar em flanela. Fazer um xarope de água com açúcar e mistura-lo à infusão. Engarrafar e deixar envelhecer por 6 meses, depois filtrar.


Bonsai de jabuticabeira

 O autor recomenda a obtenção de mudas através da alporquia de um galho que já esteja produzindo. Neste caso, deve-se fazer o anelamento completo do tronco,  e utilizar algum hormônio enraizante. A obtenção de mudas através de raízes também pode ser feita, todavia, neste caso, deve demorar a produzir frutos. Os brotos devem ser podados no segundo ou quarto par de folhas, quando estiver com seis ou oito pares de folhas desenvolvidas. Podas vigorosas podem ser feitas, preferencialmente na primavera. A raiz pivotante deve ser eliminada aos poucos para que se consiga o plantio em um vaso raso. As plantas devem ser transplantadas a cada dois anos, de preferência na primavera, fazendo-se uma poda moderada das raízes.

Deve-se regar, de forma a manter o solo úmido de maneira uniforme. O autor recomenda adubação com fertilizante líquido a cada quinze dias, desde o início da primavera até o final do verão, e no outono e inverno, uma vez por mês.

Em climas amenos, as plantas podem ficar próximas a uma janela bem iluminada. No caso de ambientes externos, deve ficar em local ensolarado ou de meia sombra no período que vai da metade da primavera até o final do verão. A planta não suporta geadas fortes.


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Colheita e pós-colheita da Jabuticaba

 

Colheita e pós-colheita 

A colheita se dá 1 a 1,5 mês após a florada, podendo ocorrer em diferentes épocas do ano, conforme a região de cultivo. Deve ser manual e cuidadosa, recomendando-se recipientes pequenos, e o seu transporte até o consumidor no mesmo dia da colheita. O rendimento da colheita é baixo e por isso o custo é elevado (Donadio, 2000). 

De acordo com estudos desenvolvidos por Duarte et al citados por Donadio (2000), não se recomenda armazenar os frutos maduros em bandejas plásticas a 85-90% de umidade. Isto permite a conservação e comercialização dos frutos por até dois dias à temperatura ambiente. Se acondicionado nessas condições à temperatura de 12 ºC, podem ser conservados por até 3 semanas. Relata-se ainda, que a temperatura de 6 ºC os frutos se queimaram. 

Mota (2002), estudou a influência do tratamento pós colheita com cálcio, e concluiu que não houve grande contribuição desse tratamento, na sua conservação. 

8 - Aspectos econômicos 

De acordo com Magalhães et al, citado por Mota (2002) o potencial econômico dessa fruta é grande, devido às suas características organolépticas para consumo "in natura", e a possibilidade de ser utilizada na fabricação de licores e geléias. Entretanto, por ser muito perecível, seu período de comercialização pós-colheita é curto, porque há uma rápida alteração da aparência, devido à intensa perda de água, ocorrendo deterioração e fermentação da polpa, dois a três dias após a colheita. 

Segundo Donadio (2000), a jabuticaba ainda é considerada uma fruta de pomares, mas a sua comercialização vem crescendo. Segundo o autor, em 1980, a CEAGESP comercializou em torno de 900.000Kg, e em 1998, este valor subiu para mais de 4.000.000Kg. De acordo com os dados pela CEAGESP, 95% da produção está concentrada nos meses de agosto a novembro, principalmente, setembro. 

9 - Processamento do fruto (receitas caseiras) 

Vários produtos podem ser obtidos a partir da jabuticaba. A seguir são relatadas algumas receitas obtidas em sites da internet. 

a) Torta de jabuticaba 

“Ingredientes: 

100 gramas biscoitos água 

1 colher de sopa de margarina derretida 

1 colher de café de canela em pó 

1 colher de sopa de adoçante em pó 

3 xícaras de jabuticaba 

2 xícaras de água 

½ xícara de adoçante em pó 

1 colher de chá de amido de milho 

1 ½ envelopes de gelatina em pó sem sabor 

3 claras em neve 

½ xícara de creme de leite light 

Modo de Preparar:

 Bater os biscoitos no processador até formar uma farofa. Colocar em uma panela com a margarina até começar a dourar. Retirar e adicionar o adoçante e a canela. Colocar no fundo de uma forma de abrir. Levar a jabuticaba com a água ao fogo e deixar cozinhar até que a casca arrebente. Deixar ficar morno e bater no liquidificador. Passar por um coador e torrar ao fogo com o adoçante, o amido. Deixar encorpar. Dissolver a gelatina em 4 colheres de sopa de água e em banho-maria. Reservar 1 xícara da geléia de jabuticaba. Misturar o restante, a gelatina, a clara batida em neve e o creme de leite. Colocar sobre a massa de torta e levar à geladeira. Quando firmar, retirar do aro e servir com a calda.” 


b) Geléia de Jabuticaba 

“Ingredientes: 

- 3 litros de jabuticaba 

- cerca de cinco copos americanos de açúcar cristal, de acordo com a quantidade de suco da fruta 

Modo de Preparar 

Lavar a jabuticaba. Espremer numa panela e levar ao fogo com a casca e o caroço. Assim que ferver, mexer e retirar do fogo. Deixar esfriar, passar na peneira de taquara, facilmente encontrada em mercados municipais. Tornar a coar o líquido no coador. Medir seis copos do suco e cinco copos americanos de açúcar. Levar ao fogo e deixar dar o ponto. Dica importante: deixar pingar a geléia em um copo com água. Quando a bolinha bater no fundo do copo e dissolver, já está no ponto. Aí é só colocar em um copo de vidro esterilizado. 

Tampar só depois que a geléia estiver fria”. 


c) Sorvete de Jabuticaba 

“Ingredientes: 

-1 litros de suco de jabuticaba 

-1 xícara e meia de açúcar cristal 

-1 xícara de leite em pó 

-1 colher de sopa de liga neutra 

-1 colher de sopa rasa de gordura hidrogenada 

Modo de preparar 

Lavar bem as jabuticabas. Depois espremer a fruta numa panela, deixando a casca e o caroço. Levar ao fogo. Assim que ferver, passar na peneira de taquara, facilmente encontrada em mercados municipais. Pode-se usar, também, a peneira de plástico. A de alumínio não serve. Coar num coador de pano e então o suco estará pronto. Em seguida colocar todos os ingredientes no liquidificador, menos a gordura hidrogenada. Bater por aproximadamente 20 minutos. Deixar no freezer de um dia para outro. No outro dia dividir a massa em duas partes, porque a batedeira caseira não comporta tudo de uma só vez. Bater cada parte com meia colher de gordura hidrogenada. A massa vai crescer e o sorvete estará pronto. Ponha em potes e leve à geladeira.” 


d) Licor 

Ingredientes: 

400g de jabuticaba 

200g de açúcar 

200cm3 de água 

200cm3 de álcool 95 G.L. 

Modo de preparar: 

Esmagar as jabuticabas, aproveitando toda a fruta. Deixar em infusão no álcool durante 24 horas. Coar em flanela. Fazer um xarope de água com açúcar e mistura-lo à infusão. Engarrafar e deixar envelhecer por 6 meses, depois filtrar. 


10 - Bonsai de jabuticabeira 

O autor recomenda a obtenção de mudas através da alporquia de um galho que já esteja produzindo. Neste caso, deve-se fazer o anelamento completo do tronco, e utilizar algum hormônio enraizante. A obtenção de mudas através de raízes também pode ser feita, todavia, neste caso, deve demorar a produzir frutos. Os brotos devem ser podados no segundo ou quarto par de folhas, quando estiver com seis ou oito pares de folhas desenvolvidas. Podas vigorosas podem ser feitas, preferencialmente na primavera. A raiz pivotante deve ser eliminada aos poucos para que se consiga o plantio em um vaso raso. As plantas devem ser transplantadas a cada dois anos, de preferência na primavera, fazendo-se uma poda moderada das raízes. 

Deve-se regar, de forma a manter o solo úmido de maneira uniforme. O autor recomenda adubação com fertilizante líquido a cada quinze dias, desde o início da primavera até o final do verão, e no outono e inverno, uma vez por mês. 

Em climas amenos, as plantas podem ficar próximas a uma janela bem iluminada. No caso de ambientes externos, deve ficar em local ensolarado ou de meia sombra no  período que vai da metade da primavera até o final do verão. A planta não suporta geadas fortes.