quarta-feira, 15 de março de 2017

Tratos Culturais No Abacaxi

Manejo do mato e conservação do solo

O manejo correto do mato, especialmente nos primeiros meses após o plantio, é essencial para assegurar uma boa colheita no futuro. Os padrões atuais da produção agropecuária preconizam a utilização de práticas culturais que contribuam para a preservação ambiental e a sustentabilidade. Neste sentido, o manejo das plantas infestantes em plantios de abacaxi deve ser efetuado por meio de práticas que possibilitem a manutenção do solo protegido, entre as quais se destacam: 1) roçagem das plantas infestantes usando-se uma roçadeira manual com motor à explosão (Figura 1); 2) aplicação de herbicidas em pós-emergência; 3) utilização da cobertura morta (Figura 2); 4) capinas manuais mantendo a palhada como cobertura morta; 5) culturas de cobertura (Figura 3); e 6) cultivo mínimo ou plantio direto (Figura 4).
Por causa das frequentes inclusões e exclusões de registros de herbicidas para uso na cultura do abacaxi, recomenda-se consultar o sistema AGROFIT no endereço http://www.agricultura.gov.br/ sempre que for necessário adquirir esses produtos.
Mesmo que se use o controle químico do mato, capinas manuais ou roçagens complementares serão necessárias, visando adequar o plantio para outras práticas culturais como aplicação de fertilizantes em cobertura e amontoa.

Fotos: Aristoteles Pires de Matos

Figura 1. Roçagem no manejo das plantas infestantes e conservação do solo em plantios de abacaxi
Foto: Aristoteles Pires de Matos
Figura 2. Uso de cobertura morta no manejo do mato e conservação do solo em plantios de abacaxi
Fotos: Aristoteles Pires de Matos
Figura 3. Uso do milheto (A) ou do estilosantes (B) como culturas de cobertura no manejo do mato e conservação do solo em plantios de abacaxi
Fotos: Aristoteles Pires de Matos
Figura 4. Cultivo mínimo como prática cultural no manejo do mato e conservação do solo em plantios de abacaxizeiro: (A) manutenção da cultura de cobertura nas entrelinhas; (B) manutenção da palhada resultante da cultura de cobertura dissecada

Adubação

O fornecimento de nutrientes deve ser efetuado sempre de acordo com os resultados analíticos do solo. De maneira geral, pode-se afirmar que a definição sobre as quantidades de fertilizantes a serem aplicadas na cultura do abacaxi deve levar em conta os fatores a seguir: a) exigências nutricionais da planta; b) capacidade de suprimento de nutrientes pelo solo; c) nível tecnológico utilizado; d) destino da produção; e) rentabilidade da cultura; f) resultados locais e/ou regionais de trabalhos experimentais voltados para a otimização de doses de nutrientes para a cultura.
Todo o fósforo deve ser aplicado no solo antes do plantio, enquanto nitrogênio e potássio são supridos em aplicações fracionadas durante o ciclo da cultura. Caso seja conveniente para o produtor, a adubação fosfatada pode ser feita por ocasião da primeira adubação em cobertura, junto com o nitrogênio e o potássio. Em função do manejo dispensado à cultura e do tipo de solo, o parcelamento das doses totais dos adubos pode variar de três a cinco ou mais vezes, com a última aplicação efetuada um mês antes do tratamento de indução da floral. É importante adotar técnicas como a amontoa logo após a aplicação dos adubos sólidos, de maneira a minimizar as perdas de nutrientes por lixiviação, evaporação, erosão e outras causas.
A adubação do abacaxizeiro também pode ser efetuada na forma líquida, seja via aplicação mecanizada ou por fertirrigação nos plantios conduzidos em sistema irrigado (Figura 5).

Fotos: Aristoteles Pires de Matos
Figura 5. Sistemas de adubação em cobertura de abacaxizeiro: A) adubação manual; B) detalhe da colocação do adubo junto à planta; C) implemento para adubação mecanizada; D) adubação líquida
As alternativas mais frequentes para a adubação nitrogenada são a ureia e o sulfato de amônio. Como fonte de fósforo, pode-se utilizar o superfosfato triplo, o fosfato monoamônico, o fosfato diamônico ou o superfosfato simples, sendo que este último é também boa fonte de enxofre. O potássio pode ser suprido mediante cloreto de potássio, sulfato de potássio ou sulfato duplo de potássio e magnésio, sendo que as duas últimas fontes, além de mais caras, são menos frequentes no comércio. Para a escolha das fontes de nutrientes, vários aspectos devem ser levados em consideração, dentre eles o custo por unidade do nutriente.
A utilização de adubos orgânicos (estercos, tortas vegetais, compostos), quando possível, é particularmente importante nos solos de textura arenosa e pobres em matéria orgânica. Estes adubos devem, em princípio, ser aplicados por ocasião do plantio ou na primeira adubação em cobertura.
Constatando-se plantas pouco vigorosas e/ou com sintomas de deficiências nutricionais, na época prevista para a indução do florescimento, podem ser feitas adubações suplementares, por via sólida ou líquida, que deverão se estender, de preferência, até 60 dias após a indução.

Exigências hídricas

A grande maioria dos plantios de abacaxi é conduzida em condições de sequeiro, entretanto, ocorrendo déficit hídrico acentuado, o uso da irrigação é a melhor alternativa para o suprimento e a manutenção da umidade do solo, possibilitando o desenvolvimento ideal da cultura. Para otimizar a prática da irrigação, a mesma deve ser fundamentada em critérios técnicos. Recomendações gerais sobre a prática da irrigação podem ser encontradas em diversas publicações especializadas, mas ajustes às condições locais sempre deverão ser consideradas.

Antecipação da Floração e Uniformização da Colheita

O abacaxi pode ser forçado a produzir frutos fora de época mediante a aplicação de indutores do florescimento, como o carbureto de cálcio e o etefon (consultar o AGROFIT para os produtos registrados para uso na cultura do abacaxi). O carbureto de cálcio, em sua forma sólida, pode ser aplicado diretamente no “olho” da planta, na quantidade aproximada de 0,5 g a 1,0 g por planta, desde que na presença de água. Em épocas secas, o carbureto pode ser aplicado dissolvido em água. Nesse caso, a mistura deve ser feita em um recipiente com capacidade para 20 litros onde se colocam 12 litros de água limpa e fria, e adicionam-se 60 g de carbureto de cálcio, fechando-se bem para evitar escapamento do gás. Aplicar cerca de 50 mL diretamente no “olho” de cada planta. Optando-se pelo uso do etefon, o mesmo pode ser aplicado por sobre a planta, não havendo necessidade de dirigir o produto para o “olho” do abacaxizeiro. O preparo da solução de etefon depende da concentração do produto comercial. Para o produto com 24% de ingrediente ativo, utilizam-se 20 mL para 20 L de água, acrescentando-se 400 g de ureia. Para aumentar a eficiência do tratamento, recomenda-se adicionar 7 g de cal de pintura, aplicando-se de 30 ml a 50 mL da mistura por planta. Nas épocas mais quentes, a indução floral com o etefon tende a ser menos eficiente, havendo necessidade de aumentar a concentração do princípio ativo na mistura, de acordo com a orientação da assistência técnica e das instruções contidas na bula do produto.
O tratamento de indução floral deve ser realizado em plantios com cerca de um ano de idade, com plantas bem desenvolvidas, isto é, que tenham altura superior a 1,0 m e peso fresco da folha mais comprida (folha ‘D’) superior a 80 g. Observar, também, o desenvolvimento da planta, pois quanto maior a base desta, maior tenderá a ser o fruto. A aplicação do indutor da floração deve ser feita à noite ou nas horas mais frescas do dia (início da manhã ou final da tarde), preferentemente em dias nublados. Na definição da melhor época para o tratamento de indução floral, deve-se considerar a possibilidade de colher os frutos num período em que os preços sejam mais favoráveis, o que ocorre, tradicionalmente, no primeiro semestre. Nas condições quentes do Estado do Tocantins, a colheita dos frutos ocorre cinco meses após a data da indução floral.


Tratos culturais
Por ser uma planta de pequeno porte e de raízes curtas dispersas superficialmente no solo, o controle de plantas daninhas é muito importante, pois na sua presença haverá intensa competição por água, luz e nutrientes, principalmente nos seis primeiros meses após o plantio.
Ao contrário da maioria das plantas daninhas, o abacaxizeiro tem crescimento e enraizamento lento, sombreando pouco o solo e sendo pouco competitivo para a absorção de nutrientes. É importante eliminar as plantas daninhas, pois concorrem com a cultura, diminui a produtividade das plantas e o peso dos frutos e também podem ser hospedeiras de algumas pragas e doenças que afetam o abacaxi, resultando em grandes perdas.
O controle das plantas invasoras pode ser feito através da capina manual ou mecânica, durante os dois primeiros meses do crescimento do abacaxizeiro. Durante essa prática deve-se tomar cuidado com os espinhos das folhas e evitar que caia terra no centro da planta, pois pode ocasionar o retardamento do seu crescimento e facilitar o desenvolvimento de doenças. Outra forma de combate às plantas invasoras é a utilização de cobertura morta como a palha de arroz, bagaço de cana, folhas, capim-seco, entre outras que não produzam substâncias tóxicas à cultura. A cobertura morta deve ser colocada nas entrelinhas da cultura, evitando sempre que a palha fique sobre o abacaxizeiro.
O controle químico também pode ser usado com aplicação de herbicidas pré-emergentes no plantio e pós-emergentes, principalmente na fase vegetativa da cultura. Deve-se ressaltar a necessidade da escolha certa do herbicida, a forma e a dose correta de aplicação para não prejudicar a própria cultura.
Outro trato cultural muito importante é o controle do florescimento, que é feito para se obter maior uniformidade no florescimento e na colheita, podendo racionalizar o emprego da mão de obra e permitir escalonar as áreas que se deseja colher. A indução natural ocorre em dias curtos, com menores temperaturas e clima seco. Já a indução artificial modifica o ciclo natural da planta com o uso de agentes químicos como auxinas sintéticas, ou produtos que, quando em contato com a planta, estimulam a produção de etileno. Carburetos de cálcio também são muito utilizados e são apresentados de três formas diferentes: em pó, pedra ou na forma de solução aquosa de gás acetileno.
As dosagens utilizadas são de 1 a 2 g de carbureto de cálcio na roseta foliar em dias chuvosos, ou aplicar produtos na forma líquida com auxílio de pulverizadores sobre as plantas. Essas aplicações devem ser feitas em períodos mais frescos do dia, logo pela amanhã ou no início da noite.
Das pragas que afetam a cultura, a cochonilha é a que causa mais prejuízos e, ao sugar partes da planta transmite o agente causal da murcha do abacaxi. Seu controle pode ser feito através da utilização de mudas saudáveis, eliminação de restos culturais e aplicação de inseticidas de forma preventiva aos 60, 150 e 240 dias após o plantio.
Em relação às doenças, a principal é a fusariose, causada pelo Fusarium subglutinans, sendo a principal causa de danos e perdas na cultura. O sintoma é visível a partir da exsudação de goma. Para o controle, da mesma forma que para se evitar cochonilhas, deve-se adquirir mudas sadias e eliminar restos culturais e plantas doentes. As pulverizações de fungicida devem ser feitas desde o aparecimento das inflorescências, sendo essas aplicações realizadas em intervalos de dez dias.
Uma antiga técnica, mas que não deve deixar de ser realizada é a proteção dos frutos contra a radiação solar. Essa proteção deve ser feita quando o fruto esta perto do amadurecimento em locais com temperaturas muito elevadas, e principalmente quando o fruto não esta protegido por filhotes e quando em posição mais inclinada.
Quando o fruto fica desprotegido, a epiderme pode escurecer e a casca pode desenvolver manchas vermelhas, amarelas e brancas, a polpa também pode escurecer. Em frutos pequenos pode causar rachaduras e deformações. Todos esses fatores acabam depreciando o valor do produto no mercado ou ainda não ser aceito pelos consumidores.
Essa proteção deve ser feita, geralmente, dois meses antes da colheita com o auxílio de papéis que são amarrados na coroa, visando proteger de forma mais eficiente o lado do fruto voltado para sol poente.
Em plantios bem conduzidos, sem grandes problemas com pragas e doenças, pode-se deixar a planta-mãe no campo após a colheita para se obter a segunda safra através de brotos como os rebentos ou filhotes. Deve-se observar, porém, que os rebentos por serem brotos próximos ao solo têm maior probabilidade de desenvolver doenças e o broto filhote tem menor reserva quando comparado aos rebentos.
Da mesma forma que na implantação da cultura deve ser feito o controle de plantas daninhas, pragas e doenças, a recomendação de adubação neste caso, deve ser a metade daquela recomendada inicialmente e a indução floral cerca de sete meses após a primeira colheita.
A segunda safra, quando bem conduzida, produz ótimos frutos, porém de tamanho bem menor do que aqueles da primeira colheita.
Outras opções para aumentar o lucro do produtor são: plantar talhões em anos diferentes, para obter produção todo ano, e utilizar culturas anuais intercalares para que se obtenha renda extra em cada área quando o abacaxizeiro não está produzindo. Neste caso, deve-se atentar para que o manejo dessa cultura alternativa seja conduzido corretamente para não ser hospedeira de pragas e doenças para o abacaxi e também para que não concorra por nutrientes, água e luz com a sua cultura principal. Alguns exemplos de culturas de ciclo curto que podem ser usadas em consórcio são: feijão, amendoim, melancia, repolho e tomate.










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