quarta-feira, 12 de julho de 2017

Colheita e pós-colheita do coco (coqueiro)



Colheita
Na maioria dos países onde o coqueiro é cultivado, os frutos são utilizados para produção de copra, que se constitui no albúmen sólido desidratado a 6% de umidade, empregado na extração de óleo. No Brasil, o coqueiro é tradicionalmente cultivado para a produção do coco seco, utilizando-se a variedade gigante para a produção do albúmen sólido, normalmente comercializado in natura e/ou na forma de produto industrializado como leite de coco, coco ralado, farinha de coco entre outros. O albúmen líquido, conhecido como água de coco, é obtido de coqueiros da variedade anão, consumido como fruto in natura, ou ainda sendo engarrafado nas indústrias ou pequenos estabelecimentos de forma artesanal.
O ponto de colheita é determinado de acordo com a sua finalidade, sendo realizada normalmente em dois estádios de maturação, de acordo com o mercado a que se destina, conforme se observa na Figura 1A. Os frutos verdes destinados ao mercado de água de coco devem ser colhidos com, aproximadamente, seis a sete meses de idade, período em que se inicia a formação do albúmen sólido. Nesta fase, além do maior rendimento da água, o sabor é mais agradável, tendo, portanto, a preferência do consumidor. Frutos com cinco meses ou idade superior a sete meses apresentam alterações de sabor, devendo ser realizadas somente em condições especiais. A água proveniente de frutos com idade em torno de cinco meses, apresenta sabor menos agradável (menores teores de glicose e frutose e menor ºBrix), enquanto na dos frutos com oito meses de idade, já ocorrem quedas nos teores de glicose e frutose, e aumento no teor de sacarose e de gordura, ocasionando um sabor rançoso à água de coco.
Quando o objetivo é atender ao mercado de coco seco, os frutos devem ser colhidos na fase de plena maturação, alcançada com 11 a 12 meses de idade, quando o albúmen sólido se encontra totalmente formado. Estes frutos apresentam cor castanha, com manchas verdes e pardas irregulares, com peso inferior ao coco verde (Figura 1B)
Fotos: Carlos Roberto Martins
Figura 1. Ponto de colheita ideal para coco verde destinado ao consumo de água (A) e de coco seco destinado a processamento industrial (B).
No caso do coco verde, os cachos são colhidos com frutos nas idades de seis e sete meses; estão normalmente localizados nas folhas 17 a 19 na época do verão (época seca com temperaturas elevadas) e 18 a 20 na época do inverno (época de chuva com temperaturas mais amenas), respectivamente. Isto porque o intervalo de abertura das inflorescências do coqueiro é menor no verão (Ex. anão-intervalo médio de 18,4 dias) em relação ao período do inverno (Ex. anão-intervalo médio de 23,9 dias).
A colheita das cultivares do coqueiro-anão e dos híbridos inicia-se a partir do 3° ou 4º ano de plantio, podendo ser realizada a cada 20-35 dias. Para o coqueiro gigante, que é uma variedade rústica, de fase vegetativa longa, a colheita acontece entre o 5º e o 7º ano, ou mesmo 10 anos após o plantio, a depender das condições locais e do sistema de produção utilizado.
Em plantios de coqueiro anão, as plantas são mais precoces, e no início da fase produtiva apresentam baixo porte, facilitando a colheita manual dos cachos de coco, cortando-se o pedúnculo com o auxílio de um facão. Em plantas maiores, os frutos são colhidos por dois operadores, utilizando-se duas varas: uma com um gancho na extremidade para segurar o cacho e evitar a sua queda, e outra contendo uma lâmina para cortar o pedúnculo do cacho. Em algumas propriedades, se utilizam escadas para facilitar o acesso ao cacho na copa da planta, e/ou uma corda contendo um gancho na extremidade para segurar e descer o mesmo utilizando como suporte as folhas do coqueiro. Deve-se evitar o impacto do fruto verde sobre o solo, tendo em vista os problemas relacionados com a rachadura do seu endocarpo, comprometendo assim a qualidade da água de coco. (Figura 2).
Foto: Carlos Roberto Martins

Figura 2. Rachadura do fruto decorrente da queda durante o processo de colheita.
Em plantas mais altas, a colheita passa a ser feita com o auxílio de três operários de campo, uma vez que há necessidade de sustentar o cacho, cortar o pedúnculo, e segurar a corda que permite a descida do mesmo até o chão sem causar impacto sobre o solo. O operador responsável em sustentar a corda utiliza o próprio estipe do coqueiro como suporte para reduzir o esforço desprendido, posicionando-se no lado oposto ao cacho a ser colhido (Figuras 3).
Foto: Carlos Roberto Martins
Figura 3. Operários rurais realizando a colheita de coco verde, responsáveis pela sustentação, corte e descida do cacho.
Em função das dificuldades e do aumento de custos para a colheita do coco verde, observados a partir do 15° ao 16° ano de idade, em consequência do crescimento das plantas, o produtor tem optado por fazer a renovação antecipada do coqueiral, realizando o plantio de uma nova muda entre dois coqueiros adultos na mesma linha, aproveitando assim o sistema de irrigação instalado, conforme observado na Figura 3. Neste método, ocorre um retardamento de aproximadamente um ano na precocidade de produção das plantas jovens, que passam a produzir a partir do quarto ano de idade em média. Deve-se considerar, no entanto, que a produção obtida neste período constitui-se numa alternativa economicamente viável ao produtor, uma vez que além da receita adicional, as plantas jovens apresentam alta capacidade de recuperação após a eliminação dos coqueiros antigos.
De acordo com informações colhidas entre produtores de coco verde do perímetro irrigado do platô de Neópolis /Se, para que se obtenha um rendimento de colheita de 28.000 cocos/dia, quantidade esta correspondente a quatro caminhões transportando em média 7.000 frutos cada, são necessários aproximadamente 27 homens/dia distribuídos nas seguintes operações: colheita (9 h/d), poda dos cachos (3 h/dia) , contagem dos frutos (2 h/dia), transporte para carreta (7 h/dia) e posteriormente para o caminhão (6 h/dia). Considerando-se uma produção média anual de 180 frutos/planta/ano, distribuída em 12 colheitas mensais e uma população de 205 planta/ha, teríamos um rendimento de, aproximadamente, 15 frutos/planta, correspondente a 3075 frutos/ha/colheita. Com base nestes cálculos, a área necessária para realizar a colheita de 28.000 cocos equivaleria a 9,1 ha. Este rendimento é obtido quando o pagamento é realizado por produção, o que resultaria em uma média de 1037 frutos colhidos/homem/dia. No caso da colheita mecanizada, existem atualmente adaptações ao trator que permitem a elevação de dois colhedores até a copa da planta. Este sistema, além de apresentar custos mais elevados e menor rendimento da colheita, apresenta a dificuldade de realizar a poda dos cachos na própria carreta. Novos sistemas estão sendo desenvolvidos no sentido de reduzir custos e aumentar o rendimento da colheita, evitando assim a substituição precoce de plantas em plena fase produtiva.
Nas áreas tradicionais de plantio do coqueiro da variedade gigante, a colheita do coco-seco é, normalmente, realizada manualmente, onde o operário utiliza “peias” para escalar o estipe do coqueiro até alcançar a copa da planta. Com o auxílio de um facão, é possível colher, em média, três cachos em intervalo de, aproximadamente, 90 dias. Neste caso, o impacto da queda do cacho sobre o solo não provoca as rachaduras observadas no caso do coco-verde. Neste sistema, um homem pode colher, em média, 100 plantas /dia enquanto que no descascamento o rendimento estimado é de 1.200 a 1.300 frutos/homem/dia.
Em plantios comerciais onde são plantados coqueiros híbridos, a colheita pode ser realizada com varas com uma lâmina na extremidade, em função do menor porte das plantas. À medida que estes coqueiros alcançam maior altura, aumentam as dificuldades de colheita, e, neste caso, a tendência é que estes plantios sejam renovados, considerando-se a inviabilidade de realização da colheita manual como ainda ocorre nos pequenos plantios localizados no Nordeste. Em alguns países produtores, é comum a realização da coleta após a queda do fruto, que ocorre normalmente quando este alcança a maturação completa.

Manuseio pós-colheita

Após a colheita, os cachos de coco verde devem ser deixados à sombra até o momento do transporte para o galpão, ou levados diretamente para os caminhões que farão a distribuição do produto no mercado. Antes de serem transportados, e independentemente do mercado a que se destinam, os cachos passam por uma toalete no campo para a retirada de frutos pequenos e fora do padrão e os danificados por pragas e doenças. Nesta oportunidade, eliminam-se também as espiguetas do cacho, evitando-se assim que provoquem ferimento e manchas dos frutos durante o transporte. Os cachos devem ser retirados do pomar com o auxílio de carretas tracionadas por trator ou animal.
Os frutos do coco verde são comercializados por unidade, podendo ser transportado a granel ou presos aos cachos, situação esta que permite maior conservação do fruto à temperatura ambiente.  Alguns compradores da região Sul exigem que os frutos sejam retirados dos cachos e acondicionados em sacos trançados de polipropileno de 20 kg.
A qualidade da água é extremamente afetada pelo tempo decorrente entre a colheita e o consumo final. É recomendado o transporte do fruto em caminhões do tipo baú, e de preferência refrigerado. Entretanto, como isso ainda não é possível, o transporte é realizado em caminhões cobertos com lona. Alguns cuidados são necessários para prolongar a vida útil dos frutos, tais como:
  • Os cachos de coco-verde devem ser manuseados com cuidado e o transporte efetuado o mais rápido possível, em veículos cobertos com lonas de cor clara de forma a reduzir a temperatura. Tendo em vista que a pressão da água de coco situa-se em torno de cinco atm, a temperatura elevada é considerada prejudicial à manutenção da sua qualidade, favorecendo o aparecimento de rachaduras na casca.
  • Deve-se forrar o caminhão com palha ou serragem para evitar danos mecânicos aos frutos das camadas inferiores.
  • Não sendo possível o transporte logo após a colheita, recomenda-se que os cachos sejam armazenados em galpão fresco, bem arejado e seco por, no máximo, dois dias.
  • Se o mercado exigir o fruto a granel por unidade, proceder à retirada dos frutos do cacho com o auxílio de uma tesoura de poda, tomando o cuidado para não arrancar o pedúnculo e o cálice floral, estruturas que formam uma proteção natural contra a entrada de fungos e bactérias que deterioram a água.
  • Recomenda-se que os frutos cheguem ao distribuidor no prazo máximo de três dias após a colheita.
Na maioria das vezes, o fruto exige armazenamento no local de consumo, em virtude da própria característica de regionalização da cultura e de peculiaridades do consumo da água de coco (ao natural ou industrializada). Ao chegarem ao distribuidor ou à unidade de processamento, os frutos deverão passar por uma inspeção, para a retirada de frutos passados, rachados e com lesões causadas por ácaros, fungos e em início de deterioração, e devem ser armazenados ainda nos cachos, em galpões telados, com boa ventilação, evitando-se a exposição aos raios solares e a temperaturas elevadas.
Quando armazenados acima de 20 ºC, o coco-verde deve ser consumido ou processado no período máximo de 10 a 15 dias após a colheita. Quando armazenados em câmara refrigerada a 12 ºC, esse período pode ser prolongado por mais oito dias, após o qual se iniciam os processos de deterioração que comprometem a qualidade sensorial, principalmente, a acidez da água. É importante ressaltar que o armazenamento refrigerado provoca o aparecimento de danos, que normalmente dependem da temperatura utilizada, tempo de exposição, ponto de maturação e da cultivar. Nos frutos destinados ao consumo in natura, os danos manifestam-se pelo amarelecimento e escurecimento da casca, em temperaturas abaixo de 12 ºC.
O armazenamento em atmosfera modificada também pode ser utilizado em casos específicos com filme de PVC 15 µm de espessura e armazenado a 12 ºC, podendo suportar até 30 dias de conservação. Além disso, pode diminuir os sintomas causados pela exposição ao frio.
No caso do coco seco, os frutos colhidos devem ser armazenados em galpão arejado e ventilado, e transportados em caminhões protegidos por lona para evitar rachaduras do endocarpo em decorrência das altas temperaturas.




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