segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Manejo da Cultura da Framboesa


As framboeseiras desenvolvem-se melhor em solos profundos, bem drenados, com boa capacidade de retenção de água, pH ligeiramente ácido (em torno de 5,5) e conteúdo de matéria-orgânica superior a 3%. Preferem áreas bem iluminadas, protegidas em relação a ventos, com boa circulação de ar, precipitação anual de 700 mm a 900 mm, verões frescos e invernos moderados. Requerem frio hibernal, com nível de exigência dependente da cultivar (FERNANDEZ et al., 2006; INFOAGRO, 2006).
Em geral, as plantas iniciam a produção um ano e meio após o plantio das mudas. A frutificação ocorre nos meses de novembro a fevereiro e, nas cultivares remontantes, também nos meses de outono, ou seja, março a maio (RASEIRA et al., 2004). A maioria das cultivares de framboeseira apresenta flores completas e se autopolinizam com facilidade. No entanto, as abelhas e o vento também contribuem no processo de polinização (UNIVERSITY OF GEORGIA, 2006).
Os frutos de framboesa apresentam de 10 mm a 20 mm de diâmetro, com sabor variando de doce a ligeiramente ácido e aroma bastante peculiar. Botanicamente, os frutos são do tipo agregado (INFOAGRO, 2006). A coloração dos frutos é um dos parâmetros utilizados na classificação das framboesas, havendo as vermelhas, pretas, roxas e amarelas (FERNANDEZ et al., 2006). As framboesas amarelas são resultantes de mutação das pretas ou das vermelhas, enquanto as roxas de cruzamentos entre as pretas e vermelhas (DEMCHAK, 2005). Os frutos não são climatéricos, devendo ser colhidos no momento em que atingem a maturação completa. São altamente perecíveis, conservando-se por, no máximo, quatro dias, sob condições de 0 ºC e umidade relativa de 90% a 95% (RASEIRA et al., 2004). Além disso, são extremamente frágeis ao transporte, o qual deve ser feito com máximo cuidado para aumentar a vida de prateleira (PLAZA, 2003).

Plantio

Em relação à escolha da área para plantio, deve-se, ainda, evitar locais onde se cultivaram solanáceas nos últimos cinco anos, principalmente batata, tomate e pimentão, em função de apresentarem alguns patógenos em comum, tais como nematoides e fungos de solo (UNIVERSITY OF GEORGIA, 2006). O sistema radicular é fasciculado, com raízes delgadas e superficiais, que se desenvolvem lateralmente, consistindo na parte perene da planta. A cada ano, a planta emite numerosas hastes chamadas de rebentos, inicialmente herbáceos, mas que se lignificam no decorrer do verão (INFOAGRO, 2006).

Espaçamento, condução e poda

O espaçamento recomendado para a implantação do pomar de framboeseira é de 0,30 m entre plantas e de 1,5 m a 2,5 m entre linhas, dependendo do sistema de condução a ser adotado (RASEIRA et al., 2004). No Chile, a densidade de plantio recomendada é em torno de 10 mil plantas por hectare (PLAZA, 2003).
Em função do hábito de crescimento da framboeseira, torna-se necessária a implantação de um sistema para condução/sustentação das plantas. O sistema mais utilizado é o de espaldeira simples, também podendo ser empregado o de postes em T ou Y (FERNANDEZ et al., 2006).
Quanto ao manejo da cultura, deve-se dar atenção especial à poda e ao desbaste de hastes. Desta forma, as hastes que já frutificaram devem ser eliminadas anualmente; o desponte (poda verde) das hastes do ano com mais de 1,10 m de altura também deve ser realizado; e, para garantir frutos de maior tamanho, devem ser selecionadas de cinco a seis hastes por planta por ano. Além disso, recomenda-se renovar o pomar, em média, a cada quatro anos, para evitar que a concorrência entre hastes prejudique a produtividade e a qualidade dos frutos (RASEIRA et al., 2004; INFOAGRO, 2006). No período pós-dormência, enquanto as hastes do crescimento anterior florescem, novas hastes brotam das gemas da raiz. Essas hastes são as responsáveis pela produção do novo ciclo (novo ano), mas, no caso de cultivares remontantes, essas hastes também produzirão a safra de outono, do mesmo ciclo e após a colheita serão despontadas e preparadas para a safra de primavera/verão seguintes.

Principais pragas e doenças

Várias doenças têm causado prejuízos aos pomares de framboeseira, destacando-se o mofo-cinzento ou podridão-do-fruto (Botrytis cinerea), podridão-do-colo (Phytophthora infestans), antracnose (Elsinoe veneta/Sphaceloma necator), sarna (Cladosporium sp.), requeima-dos-brotos (Dydimella aplanatta), ferrugem-amarela (Phragmidium rubi-idaei), ferrugem-tardia-das-folhas (Puccinia strumamericanum), oídio (Sphaerotheca macularis), mancha-das-folhas (Cilindrosporium rubi), podridão-das-raízes (Phytophthorasp. e Fusarium sp.) e galha-da-coroa e dos galha-dos-ramos (Agrobacterium tumefaciens e A. rubi) (RASEIRA et al., 2004; SANHUEZA, 2004). Além dos danos causados por fungos e por bactérias, as viroses têm provocado problemas sérios na cultura da framboeseira.
As viroses mais importantes da framboeseira são as mesmas que causam prejuízos em amoreira-preta, em razão de ambas pertencerem ao gênero Rubus, que possui 740 espécies descritas, divididas em 15 subgêneros provenientes de várias partes do mundo (HUMMER, 1996). Mais de 30 doenças virais e assemelhadas são relatadas infectando a cultura da framboeseira, as quais podem ser classificadas em três grupos de vírus: transmissíveis pelo pólen, por nematoides e por pulgões (CONVERSE, 1987). Deve-se considerar, no entanto, que a principal forma de transmissão ocorre por meio de material propagativo contaminado.
Segundo Nickel (2003), podem-se destacar os seguintes vírus transmitidos por pulgões: vírus da necrose da amoreira-preta (BRNV), vírus da mancha amarela foliar de Rubus (RYNV), vírus da mancha foliar deRubus (RLSV), vírus do mosqueado de Rubus (RLMV) e vírus da clorose da nervura da amoreira-preta (RVCV); transmitida por pólen: vírus do nanismo arbustivo de Rubus (RBDV); e transmitidas por nematoides: mosaico de Arabis (ArMV), vírus da mancha anelar latente do morangueiro (SLRSV), vírus da mancha anelar de Rubus (RpRSV) e vírus do anel negro do tomate (TBRV). Em função das formas de transmissão das viroses, deriva-se a relevância de produzir as mudas em ambiente protegido contra o ataque de vetores alados. Dentro do grupo das viroses transmitidas por pulgões, destaca-se o mosaico das amoras, principal doença viral da framboeseira, a qual é causada por um complexo de até quatro vírus. Nos Estados Unidos, o mosaico das amoras é causado por vírus da necrose da amoreira-preta (BRNV) (não classificado) e por vírus da mancha amarela foliar de Rubus (RYNV). Na Europa, a doença é causada por RYNV e vírus do mosqueado de Rubus (RLMV). Entretanto, os sintomas são intensificados quando ocorre uma combinação entre BRNV ou BRNV e vírus da mancha foliar de Rubus (RLSV). Nos EUA, ainda ocorre o vírus do enrolamento da folha (RLCV) e, na Europa, o vírus da clorose das nervuras (RVCV). O complexo viral do mosaico é formado por componentes termosensíveis e termotolerantes, enquanto o RVCV é termoestável e de difícil remoção somente por termoterapia. Desta forma, a necessidade de se conhecer previamente o estado fitossanitário das cultivares para subsidiar as decisões de limpeza viral.
Entre os vírus transmissíveis por nematoides, destacam-se o vírus da mancha anelar latente do morangueiro (SLRSV), mosaico de Arabis (ArMV) e vírus da mancha anelar de Rubus (RpRSV) também facilmente transmissíveis mecanicamente para plantas indicadoras herbáceas, tais como o Chenopodium quinoa e a Petunia hybrida. Quanto aos vírus transmitidos por pólen, o vírus do nanismo arbustivo deRubus (RBDV) destaca-se por ser o de maior ocorrência no mundo. Nas duas recentes décadas foram feitos substanciais avanços na caracterização molecular dos vírus de Rubus. Vários vírus novos foram descritos e as relações com seus vetores estão sendo estudadas. Os vetores de vírus de Rubus spp. conhecidos incluem pulgões, moscas-brancas, ácaros, nematoides e tripes. Atualmente estão disponíveis métodos de diagnóstico por RT-PCR em tempo real para a maioria dos vírus que infectam Rubus (MARTIN et al., 2013).
Além das viroses, fitoplasmas também ocorrem em framboeseira. Estes organismos também são transmissíveis por enxertia e são disseminados, geralmente, por cigarrinhas.
 Os principais danos econômicos causados pelas viroses na framboeseira relacionam-se à redução da produção e da qualidade dos frutos (aborto de frutícolas, redução de firmeza, tamanho e peso), redução da longevidade das plantas e, consequentemente, da rentabilidade do investimento (NICKEL, 2003). Jones (1980) verificou reduções de 22% no número de frutos, de 25% no comprimento total dos ramos e de 18% no peso médio dos frutos, ao comparar plantas sadias e infectadas por BRNV e RBDV.
Em relação às pragas da framboeseira, as principais são: afídeos e nematoides, os quais, além dos danos diretos, são vetores de várias viroses; larva das raízes (Naupactus xanthographus); cochonilha branca (Aulacaspis rosae); e tripes das flores (Frankliniella sp.) (RASEIRA et al., 2004; INFOAGRO, 2006).



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