quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Aspectos Fenológicos do Cajueiro


A fenologia de uma planta, que é resultante da interação entre genótipo e ambiente, baseia-se nas observações de estádios de desenvolvimento externamente visíveis, denominadas “fenofases”, como, por exemplo, épocas de brotação, florescimento, frutificação, entre outras. O conhecimento da fenologia de uma mesma espécie em diferentes ambientes, além de ser importante na avaliação de suas características genéticas, é de grande utilidade para o planejamento adequado do manejo do pomar (épocas de poda, de controle de pragas e doenças, adubações, etc.).
O cajueiro caracteriza-se por apresentar crescimento vegetativo intermitente, isto é, não contínuo, com períodos de intensa atividade e outros de aparente repouso. A umidade relativa do ar e a intensidade e distribuição das chuvas parecem ser os principais fatores controladores da periodicidade das fenofases do cajueiro, tanto as vegetativas como as reprodutivas.
Quanto aos tipos de cajueiro, o cajueiro-anão apresenta tendência de antecipação do início das fenofases quando comparado ao cajueiro-comum, sendo por isso também denominado como cajueiro-anão-precoce. Contudo, alguns clones de cajueiro-anão podem apresentar comportamento semelhante às plantas de cajueiro-comum.
Consideram-se como as principais fenofases do cajueiro as seguintes:
a) Aparente repouso vegetativo.
b) Queda das folhas.
c) Fluxo foliar, brotação ou crescimento vegetativo.
d) Floração.
e) Frutificação.

Aparente repouso vegetativo

O cajueiro apresenta crescimento intermitente, sendo que, em um determinado período, ocorre reduzido crescimento vegetativo, considerado como um aparente repouso vegetativo (Figura 1).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 1. Cajueiros dos tipos comum (acima à esquerda) e anão (acima à direita) em aparente repouso vegetativo. As gemas apicais dos ramos permanecem fechadas (abaixo).
No Campo Experimental da Embrapa, em Pacajus, CE, nos meses chuvosos, tanto o cajueiro-anão quanto o cajueiro-comum apresentam escassa ou nenhuma emissão de fluxo de crescimento (brotações novas). No Piauí e no Rio Grande do Norte, também ocorre esse processo no período coincidente com a maior concentração de chuvas, conhecido como quadra chuvosa ou, popularmente, “inverno”.

Queda de folhas

Logo após o período das chuvas mais intensas e do repouso vegetativo do cajueiro, inicia-se um período de acentuada queda de folhas (Figura 2). As plantas não ficam totalmente sem folhas, sendo, por isso, o cajueiro considerado como planta subcaducifólia.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 2. Cajueiros em época de queda das folhas (à esquerda). A área abaixo da copa do cajueiro fica praticamente coberta pelas folhas que caíram (à direita).
Normalmente, no Nordeste brasileiro, essa queda acentua-se a partir de maio, atingindo picos em julho para o cajueiro-anão e em agosto para o cajueiro-comum. Esse fenômeno pode estar ligado ao preparo da planta para a emissão de novos fluxos foliares, em que a translocação de fotoassimilados e nutrientes das folhas velhas (fonte) para as folhas novas (dreno) constitui-se no fator determinante para o aumento da abscisão foliar.

Fluxo foliar

O fluxo foliar ou nova brotação corresponde ao crescimento vegetativo dos ramos, caracterizado pela retomada de crescimento da gema apical, expansão de internódios e formação simultânea de folhas. Após o término do período chuvoso, as gemas presentes no ápice dos ramos iniciam sua abertura, emitindo novas brotações que darão origem a novos ramos vegetativos e reprodutivos. Essa fase é caracterizada pela presença de folhas novas, de menor tamanho e coloração, variando, entre os genótipos, de verde-claras a marrom-avermelhadas (Figura 3).
O fluxo foliar pode ter seu início influenciado tanto pela pluviosidade (chuva) quanto pela temperatura do ar. A diminuição brusca da pluviosidade e a crescente insolação se apresentam como prováveis fatores que estimulam a brotação das gemas.
Outro fato relevante é que, em alguns genótipos de cajueiro, principalmente de cajueiro-anão, podem ocorrer dois fluxos vegetativos bem definidos, sendo um de grande intensidade, que é observado logo após o período de chuvas mais intensas (coincidindo com o pico de queda de folhas) em junho, e outro de menor intensidade, que ocorre geralmente em novembro, logo após as chuvas esparsas, comuns nesse período, na região Nordeste. Em cultivo irrigado, alguns clones de cajueiro-anão podem emitir fluxos vegetativos continuamente.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 3.  Ramo com gema apical em repouso (A); ramo com gema apical recém-aberta (B); folhas novas recém-emitidas (C); cajueiro com folhas novas logo após o término do período chuvoso (D); folhas maduras (E); cajueiro com maioria das folhas maduras apresentando o segundo fluxo foliar (F).

Floração

O cajueiro-anão apresenta a característica de emitir flores já nos primeiros meses após o plantio no campo, sendo por isso também denominado de cajueiro de seis meses (Figura 4). Já o florescimento do cajueiro-comum inicia-se no segundo ou terceiro ano.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 4. Plantas de cajueiro-anão apresentando panículas precocemente: muda seminal (“pé-franco”) do clone ‘CCP 76’ com 150 dias de idade (à esquerda), e cajueiro-anão enxertado aos 10 meses após o plantio no campo(à direita).
A partir do segundo ano após o plantio no campo, considera-se que a floração do cajueiro está diretamente relacionada com os fluxos de crescimento vegetativo, sendo que ambos ocorrem simultaneamente em certos períodos e com diferentes intensidades. Como já abordado, o processo que se inicia com a brotação da gema, alongamento dos internódios e emissão de folhas tende a terminar, nos ramos produtivos, com a emissão da inflorescência na parte terminal do broto recém-formado (Figura 5).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 5. Início do florescimento do cajueiro: na gema apical do broto em crescimento surge a inflorescência (à esquerda). Posteriormente, a panícula se desenvolve até atingir o seu máximo crescimento (à direita).
Na região Nordeste do Brasil, a floração do cajueiro ocorre preferencialmente durante a estação seca (a partir de junho), na qual predomina pouca nebulosidade e alta insolação. Desse modo, os períodos de máxima diferenciação floral e florescimento ocorrem entre os meses de junho e setembro, com pico de florescimento no mês de agosto. No entanto, vários clones de cajueiro-anão apresentam grandes intensidades de floração no início do período. Como exemplo, pode-se citar que os clones de cajueiro-anão ‘CCP 09’ e ‘BRS 189’ tendem a ser mais precoces no início do florescimento do que os demais, enquanto o clone ‘CCP 1001’ tende a ser o mais tardio.
De modo geral, o período de florescimento perdura por, aproximadamente, 100 dias (julho a outubro); no entanto, alguns genótipos podem florescer por até 7 meses. Devido à heterogeneidade dos pomares de cajueiros-comuns e ao tipo de cultivo do cajueiro-anão, observa-se, não raramente, grande variação no início e na duração do período de florescimento.
Em alguns anos, foi observado que, após as primeiras chuvas no final do período seco (dezembro e janeiro) procedidas de um novo período seco (15 a 20 dias), plantas de alguns genótipos de cajueiro-anão emitiram outro fluxo de florescimento, de pequena intensidade. Após esse florescimento, se o tempo permanecer seco, há a possibilidade de obter um bom índice de frutificação e produção de cajus com qualidade.

Frutificação

Assim como o florescimento, a frutificação do cajueiro-anão também pode se iniciar no primeiro ano (Figura 6). Entretanto, não é recomendável manter uma planta nova em produção, pois pode afetar negativamente o seu desenvolvimento.
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 6. Cajueiro-anão clone ‘CCP 76’ produzindo cajus já no primeiro ano pós-plantio no campo.
Na região Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, principalmente), a frutificação do cajueiro ocorre normalmente na estação seca, com tendência de maior concentração de cajus maduros nos meses de outubro, novembro e dezembro. Determinados genótipos de cajueiro-anão tendem a iniciar a produção a partir de julho, enquanto a maioria dos cajueiros-comuns inicia sua produção a partir de outubro.
O processo de frutificação se inicia aproximadamente após 7 dias da fecundação da flor. Observa-se, então, o surgimento dos frutos jovens, que são as castanhas ainda verdes, chamadas de maturis (Figura 7).
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 7. Frutos jovens (castanhas) do cajueiro, também conhecidos como maturis.
Após o surgimento dos frutos jovens, observa-se um crescimento inicial rápido da castanha, a qual atinge seu tamanho máximo por volta de 35 dias após a fecundação da flor (Figura 8). O desenvolvimento da amêndoa é mais lento, não seguindo o padrão de crescimento da castanha, de modo que, quando a castanha já atingiu o seu tamanho máximo, a amêndoa ainda está imatura.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 8. Crescimento inicial da castanha (à esquerda) e amêndoas imaturas (à direita).
Após a castanha atingir o máximo de tamanho, inicia-se o processo de endurecimento da casca (amadurecimento da castanha) e o desenvolvimento do embrião (amêndoa).
O crescimento do pedúnculo é lento na fase inicial, mas, a partir da quinta semana após a fecundação, fase que coincide com o final do crescimento da castanha, o pedúnculo inicia um rápido crescimento até completar o seu amadurecimento (época da colheita) (Figura 9).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 9. Após o crescimento máximo da castanha (à esquerda), o pedúnculo começa a se desenvolver, apresentado rápido crescimento entre o 35° e 48° dia após o surgimento do maturi (ao centro e à direita).
No geral, a maturação completa do caju (castanha + pedúnculo) ocorre, em média, entre 7 e 8 semanas (52 a 60 dias) após a fecundação da flor (Figura 10). Nessa etapa, o pedúnculo apresenta coloração intensa (amarelo, alaranjado ou vermelho), de acordo com o genótipo (clone); e a castanha se apresenta na coloração acinzentada.
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 10. Caju ‘CCP 76’ maduro, apresentando pedúnculo alaranjado e castanha acinzentada.

No campo experimental da Embrapa, em Pacajus, CE, foi observado em cajueiro-anão que, a partir da fecundação da flor, o tamanho máximo da castanha ocorreu entre o 30º e o 36º dia, enquanto o tamanho máximo do pedúnculo foi observado entre o 48º e o 52º dia. Em resumo, todas as etapas do desenvolvimento do caju são mostradas na Figura 11.
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 11. Desenvolvimento do caju: iniciando com o pequeno maturi e finalizando com o caju maduro.






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